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Por Marcos Espínola

Engana-se quem acha que as mulheres são as únicas vítimas do feminicídio, que insiste em crescer no país. A morte de cada uma extermina não só uma mãe, esposa, irmã ou filha, mas essencialmente dá um golpe cruel em toda a sociedade por serem elas o eixo da instituição família. Com elas, morrem um pouquinho de cada um de nós.

A violência contra a mulher nos remete aos tempos mais obscuros do machismo, autoritarismo e preconceito. Um desrespeito histórico e gratuito que vai de encontro à potencialidade desse público tanto em quantidade - elas representam mais de 50% da população brasileira -, quanto em qualidade, comprovada no crescimento delas no mercado de trabalho, ocupando quase 50% das vagas do mercado formal. Tudo isso tendo que acumular a velha e pesada dupla e até tripla jornada de trabalho. Um dia a dia que muitos marmanjos não dão conta. Uma rotina que só sendo muita feminina para aguentar.

Segundo o Anuário Brasileiro de Segurança Pública, o Brasil teve mais de 600 casos de violência doméstica por dia em 2017. Foram mais de 220 mil registros e o número de mulheres assassinadas aumentou 6,1% em relação ao ano anterior. Com mais de 4 mil assassinatos, o Brasil é um dos países que mais tem mulheres como vítimas no mundo.

Só no Estado do Rio de Janeiro foram quase 70 casos de feminicídio, o que dá a triste média de a cada cinco dias uma mulher perder a vida, simplesmente, por ser mulher. O curioso é que toda essa tragédia acontece num país cujo homicídio motivado por ódio contra elas poder ter penas mais severas. Na prática, isso não tem intimidado valentões que, mais do que preconceituosos e covardes, são criminosos que se camuflam sob o argumento da passionalidade e apostam na impunidade.

Enfim, neste momento no qual celebramos o décimo segundo aniversário da Lei Maria da Penha cabem várias reflexões. Entre elas, o fato de, justamente, ainda sermos uma sociedade que precisa de uma lei para proteger a mulher. Carecemos ainda de uma delegacia especial para tratar os inúmeros crimes cometidos contra elas.

O feminicídio é uma contradição em relação a evolução dos tempos. Em plena era tecnológica, num mundo globalizado cuja informação está ao alcance de todos, ainda aceitamos a violência contra a mulher sem nos darmos conta que também somos atingidos por ela.

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