Gustavo Dietz - Divulgação
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Por Gustavo Dietz Gerente de Segurança Corporativa da Souza Cruz

Rio - O Brasil caminha a passos largos rumo à liderança de uma estatística que é motivo de constrangimento e preocupação. E pior: a participação do Rio de Janeiro nesta escalada tem sido decisiva. Em um ranking de 57 países, publicado em fevereiro pela Joint Cargo Committee, o Brasil aparece entre os dez mais na modalidade criminosa do roubo de carga, ao lado de nações em guerra. O prejuízo, só em 2016, foi de R$ 1,36 bilhão. Outro dado estarrecedor: pela primeira vez em 15 anos, o Rio registrou mais roubos de carga do que São Paulo - o número é ainda mais alarmante se considerarmos que o Rio possui 38% do PIB de SP e 15% de sua malha rodoviária.

O motivo da explosão destes índices é um só: organizações criminosas estão cada vez mais atuantes no roubo de cargas, transformando-o em fonte de financiamento. A engrenagem funciona da seguinte forma: quadrilhas miram cargas de alta liquidez e fácil distribuição. A negociação das mercadorias capitaliza as quadrilhas para reinvestirem em outras modalidades criminosas, como compra de armas, expansão do narcotráfico e contrabando de cigarros.

O cigarro é um dos bens de consumo mais roubados do país. Na Souza Cruz, líder no mercado, o prejuízo em 2017 com o roubo de carga chegou a R$ 100 milhões. Foram 280 milhões de cigarros subtraídos. Se fossem vendidos pela metade do preço, gerariam R$ 51 milhões de receita, o que daria para comprar 1.275 fuzis. Os incidentes de roubos de carga da empresa subiram 72% em três anos: de 1.335 em 2014 para 2.301 em 2017.

Este salto se explica, em parte, por uma estratégia equivocada do Estado, que vislumbrou uma relação direta de causa e efeito entre aumento do tributo do cigarro e queda no consumo do produto. O resultado é que os consumidores migraram para o produto ilegal, que saltou de 34% do mercado em 2013 para 48% em 2017.

O roubo de carga gera três tipos de vítimas: a sociedade, incluídos aí milhares de caminhoneiros e motoristas de carga, que sofre com o aumento da violência. As empresas, que veem seu custo logístico aumentar e o lucro despencar; e o governo, que deixa de arrecadar R$ 10 bilhões ao ano com o mercado ilegal, que poderiam ser investidos na construção de 102 mil casas populares, 5 mil creches e 19 mil Unidades Básicas de Saúde.

Para a Souza Cruz, a proteção de seus colaboradores e da carga é a prioridade: a empresa está revisando modelos de distribuição, dando suporte jurídico e psicológico para as equipes e investindo em tecnologia de rastreamento, treinamento e inteligência. Estas iniciativas têm surtido efeito, mas dependem de uma agenda mais ampla, como um plano de segurança de longo prazo.

Um dos grandes entraves do combate ao roubo de cargas é o Código Penal Brasileiro, que não está mais condizente com a realidade do país. As penas para receptação de mercadoria roubada são brandas, podendo resultar em pagamento de fianças irrisórias, além da possibilidade de o acusado poder responder em liberdade.

Medidas estruturais só serão eficazes se acompanhadas de campanhas de conscientização. Se havia a percepção de que adquirir produtos contrabandeados ou roubados era um crime de menor potencial ofensivo, as estatísticas comprovam que isso não se sustenta mais. Quem consome produto ilegal ou roubado tem responsabilidade na violência endêmica do país. Para este mercado, o Brasil não conhece crise!

Gustavo Dietz é gerente de Segurança Corporativa da Souza Cruz

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