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Por Roberto Saturnino Braga

O PT organizou, sob a coordenação do embaixador Celso Amorim, um seminário em São Paulo para discutir as ameaças à Democracia no mundo e conseguiu trazer para ele um grupo de grande expressão: Dominique de Villepin, ex-primeiro-ministro da França; Massimo D'Alema, ex-primeiro ministro da Itália; José Luís Zapatero, ex-primeiro- ministro da Espanha; Noam Chomsky, professor emérito do Instituto de Tecnologia de Massachussets, o mais requisitado representante do meio acadêmico dos EUA; Cuauhtémoc Cárdenas, ex-governador do Distrito Federal do México, e Pierre Sané, ex-secretário-geral da Anistia Internacional, entre outros, ao lado de grandes intelectuais brasileiros.

Discutiram a Democracia no mundo, mas, obviamente, falaram com mais ênfase da crise brasileira atual e da perseguição ao grande líder brasileiro Luiz Inácio Lula da Silva. Quase todos passaram antes por Curitiba para visitá-lo. Interromperam suas carregadas agendas para virem ao Brasil precisamente para falar de Lula, sobre Lula, para Lula. Falar para o mundo e para o Brasil, que foi o país mais importante do mundo nos primeiros anos do século, como o país-referência nas políticas de combate à fome e, também, o único a conseguir realizar uma significativa redistribuição de renda em favor dos mais pobres, com crescimento do PIB.

Alguns comentários ficaram retidos com mais destaque na memória. Chomsky ressaltou que seu país (Estados Unidos) foi o primeiro a praticar a democracia no mundo moderno mas que, hoje, nesta democracia, você pode prever os resultados, conhecer de antemão até a composição do Congresso, pela ordem dos valores das arrecadações que os candidatos conseguem para suas campanhas. Seus membros representam financiadores, não mais seus eleitores.

Zapatero enalteceu o Brasil pela sua presença mundial no combate à fome e na erradicação da pobreza, na redistribuição da renda e na criação dos Brics. E sustentou que o dever maior da esquerda é não perder a confiança nos valores que defende, que acabarão por se impor à humanidade como dever moral

Sané, valendo-se da rica experiência africana, foi crítico ao legado do colonialismo, afirmando que a Democracia não se aprende ou ensina pela força; que o colonialismo não abriu a estrada da Democracia, mas dos golpes e das guerras que se seguiram à sua retirada. Só agora a África começa a construir a sua Democracia. Para ele, a Democracia é o governo dos humildes, pelos humildes, para os humildes. Sané vê o Brasil como um líder mundial das novas tendências políticas da Humanidade.

Cárdenas afirmou a insustentabilidade de um sistema como o neoliberalismo, que transformou o México num país em que 53% da população é de pobres e 23% é de muito pobres, miseráveis. Um país de renda média, das mais altas da América Latina, que tem este nível de pobreza, diz ele, não pode ter um conteúdo de moralidade alto, ou mesmo médio, entre seus cidadãos; tem, necessariamente, que ser um país de corrupção e criminalidade. Só agora, com a eleição do novo presidente, Lopez Obrador, haverá condições de iniciar uma reversão política e, com o tempo, mudar este quadro imoral e insano e retomar o projeto desenvolvimentista no México.

Vi a dimensão da liderança de Lula no mundo. Não será nosso presidente, mas seguirá sendo um grande líder entre as nações do mundo, o que talvez seja melhor, para não submetê-lo aos desgastes do Poder e faze com que ele seja ainda mais respeitado e acatado como o líder brasileiro capaz de intermediar conflitos e produzir soluções em direção a um novo mundo de paz.

(* Ex-senador e presidente do Centro Celso Furtado)

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