Por Eugênio Cunha Professor e jornalista

Recebi muitas felicitações pelo Dia do Professor. Todo 15 de outubro é sempre assim. Atualmente, com a invenção das redes sociais, ficou mais frequente ainda receber essas demonstrações de carinho e apreço. Prezo muito quando sou lembrado nessa data, penso que meus colegas docentes dirão o mesmo. Temos todos uma história em comum. De certa forma, fica a sensação de que cada história tem particularmente o caráter individual do ensinante, que é sempre único para seu educando.

Apesar de todas as profissões merecerem reconhecimento, parece-me que "ser professor" ou "ser professora" ganhou um ar de resistência e inteireza, principalmente na fluidez dos tempos atuais em que pouca coisa é permanente, da integridade aos ideais. "Ser professor hoje em dia é coisa pra herói", disse-me um. "Parabéns, lutador!", disse-me ainda um outro, "O professor não é fraco não", escreveu-me um menino de oito anos. E por aí vai...

Acredito que um dos grandes segredos que impulsiona as mensagens enviadas aos docentes no seu dia é o significado singular que eles têm para cada um dos seus alunos. Além disso, trabalhamos num ofício em que precisamos igualmente de nossos atributos profissionais e afetivos. Por isso, na Educação, não estamos lidando apenas com qualificações acadêmicas, mas acima de tudo com a incompletude humana.

Mas a realidade tem sido rude com o professor. Para a juventude, ensinar não é uma opção. Pouquíssimos desejam o magistério. Para que o prezado leitor tenha uma ideia do que escrevo, dados do relatório Políticas Eficientes para Professores, da Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE), mostram que no Brasil apenas 2,4% dos alunos de 15 anos têm interesse na profissão. Exercemos uma profissão que pouco atrai. Que perspectivas há para uma nação nessas circunstâncias? Talvez, por essa razão, resilientes professores e professoras recebam merecidamente expressões tão ufanistas em seu dia.

Ser professor no Brasil é uma atitude audaciosa. Exercemos uma atividade que, apesar de essencial, ainda é afligida pela indiferença e descaso. Gosto de dizer que o professor caminha sobre utopias. Se assim não fosse, já teria desistido de ensinar. Por outro lado, gosto também de dizer que educar é um ato de excelência, e que o professor ama a excelência. Se assim não fosse, muitos teriam desistido de aprender.

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