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Por Wagner Victer Secretário estadual de Educação

"Dormia. A nossa Pátria mãe tão distraída. Sem perceber que era subtraída. Em tenebrosas transações " Mais do que nunca os versos da celebre música de Chico Buarque 'Vai Passar' se adequam perfeitamente em momentos de nossa história, como o que acontece agora para o futuro dos Cursos de Engenharia no Brasil!

É extremamente estranho, lamentável e até porque não dizer surreal, o que está acontecendo de forma "tão distraída" neste fim de gestão federal na mudança dos currículos dos cursos de Engenharia e que vem sendo promovida no âmbito do Conselho Nacional de Educação.

A flexibilização, nas novas diretrizes, dos currículos mínimos para a formação de engenheiros no país, com a possibilidade de eliminar as tradicionais disciplinas dos chamados "ciclos básicos" da Engenharia, como Cálculo, Física, Química, Resistência dos Materiais, entre outras, ameaça criar uma "jabuticaba tupiniquim" que envergonhará a tradição da Engenharia brasileira que é respeitada em todo o mundo, bastando ver grandes obras como Hidrelétrica Itaipu, Estação de Tratamento do Guandu, Complexo Nuclear, além do sucesso tecnológico internacional de grandes empresas como a Embraer, na aviação, e a Petrobras na exploração em águas profundas.

O assunto tem tido até então dinâmica estranha, não obstante as mais tradicionais instituições de ensino da Engenharia, como, por exemplo, a Escola Politécnica da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), com mais de 200 anos, e históricas entidades de classe, como o Clube de Engenharia, Academia Nacional de Engenharia, e os conselhos como os CREAs, se posicionarem fortemente e publicamente, contrárias ao inexplicável movimento, já que é feito com total falta de governança e transparência, em especial pela não realização de audiências públicas em todo o país para discutir o tema e que obviamente deveria envolver a sociedade brasileira, em especial suas entidades, sem falar nos milhares de alunos das centenas de cursos de Engenharia espalhados pelo país.

O processo como está em curso, em forma de "rolo compressor" ao apagar das luzes de um governo, conduzido por curtas e repentinas "consultas por internet", pode se transformar em um "armengue". Apesar de já repudiado publicamente, segue trafegando em sentido contrário ao limite do bom senso, pois desmoralizará nossos cursos de Engenharia perante o mundo, quando hoje são plenamente aceitos, desmoralizando e dificultando o reconhecimento e até futuramente a revalidação dos nossos diplomas no exterior.

Além disso, oportunizará a mercantilização dos cursos de Engenharia, permitindo às chamadas instituições de "fundo de loja", em especial através do ensino a distância, realizarem a banalização da titulação da Engenharia no Brasil.

Como secretário de Educação e engenheiro membro vitalício de diversas entidades de Engenharia, tenho manifestado, em sintonia com diversas entidades, o nosso desapontamento quanto à condução desse processo de mudança.

É claro que mudanças sempre poderão ser positivas e discutidas, porém quando não são feitas de maneira adequada, sem transparência e sem a devida participação, poderão no futuro ser interpretadas, a exemplo dos versos de Chico Buarque, como "tenebrosas transações".

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