Luís Pimentel, colunista do DIA - Divulgação
Luís Pimentel, colunista do DIADivulgação
Por Luís Pimentel Jornalista e escritor

Rio - Copacabana - como se sabe e reproduziram os cronistas desde os tempos de Rubem Braga - tem muitas histórias. As melhores, como é tradição em qualquer bairro, aconteceram nos bares. As melhores entre as melhores, no balcão, nas mesas ou na calçada do Bip Bip.

Ouvi muitas, vi algumas, muitas o bom senso me recomendou esquecer. Essa eu fiz questão de guardar para os netos, mas, enfim, vou repartir com os amigos.

A roda de samba domingueira corria no melhor dos mundos, com os violões do Chico Genu, do Maurício e do Flávio Feitosa; cavaquinhos do Paulinho, do Ari Miranda e do Alex; percussão sob a batuta e o batuque do Bené, do Jovem, do Marcelinho, do Ismael, do Tibau, da Aretha e da Manu. Luxo só.

Alfredinho acabara de receber o telefonema de um cliente pedindo para "reservar uma mesa" (Mesa?! Sabe de nada, inocente...) e de passar descompostura num cliente embriagado (bar não é lugar para se chegar bêbado, é para sair!).

Paulinho do Cavaco repetia o verso "no alto São Jorge matando um dragão", do seu samba-hit "Saudades dos meus botequins", quando a deusa invadiu o recinto. Blusinha decotada, saiotinha modelo abajur-de-periquita, um sorriso-implante de mudar qualquer repertório. Alguém se lembrou do Geraldo Pereira (ô, ô, ô, que samba bom!) e puxaram "Chegou a bonitona": "Olha só, ô pessoal, que bonitona/Olha o pedaço que acabou de chegar...".

A homenageada rodopiou o balaio entre as cadeiras e todos fizeram "Ooooooohhh!". Todos. Até mesmo a Aretha e a Manu.

A moça se informou sobre as regras da casa - o freguês se serve à vontade, Alfredinho anota o nome num pedaço de papel de pão e depois, se ainda não estiver de porre, cobra a conta - e soltou a voz na cantoria.

Rebolava mais que ministro na hora de explicar o inexplicável ou de candidato tentando explicar onde vai arrumar dinheiro para cumprir as promessas de campanha.

Bebia feito gente grande a danadinha, acumulando latas de cerveja e copinhos de cachaça Salinas, como se não houvesse o amanhã. Final dos trabalhos, após perguntar quanto devia, ela falou baixinho no ouvido do Alfredo, molhando os lábios com a língua e acomodando um peito, distraída, em seu ombro:

"Desculpa, Ném, mas é que estou desprevenida".

"Sem problemas", disse ele, dando um golaço no vinho sagrado. "Aqui nós resolvemos tudo".

E chamando duas auxiliares voluntárias:

"Kátia e Simone, minhas filhas, peguem a caixa de calcinhas lá em cima. Escolham uma de tamanho GG aqui para a nossa amiga".

(Do livro "Bip Bip, um bar a serviço da alegria", escrito em parceria com Chico Genu e Marceu Vieira, terceira edição a ser lançada em dezembro, nos 50 anos do nosso querido boteco)

Luís Pimentel é jornalista e escritor

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