Por O Dia

Rio - A cultura brasileira é única. Somos um país de muita diversidade, gastronomia farta, folclore fantástico, entre tantas outras riquezas. Mas, paradoxalmente, há neste mesmo país a cultura equivocada de colocar o cadeado depois da porta arrombada, o que faz com que vidas sejam perdidas em situações perfeitamente evitáveis.

Longe de querer polemizar a morte do coleguinha (é assim que nos chamamos no meio jornalístico) Ricardo Boechat, da qual senti muito pelo que representa para o jornalismo brasileiro, fica em nossa mente uma sensação real de que o acidente poderia ter sido evitado. Ao sabermos que há fortes indícios de prática irregular de táxi aéreo por parte da empresa dona do helicóptero e que a Agência Nacional de Aviação Civil (Anac) suspendeu cautelarmente a RQ Serviços Aéreos, nos perguntamos se tal medida poderia ter sido preventiva. Quantas aeronaves podem estar operando da mesma forma? E como se dá tais manutenções? Se há irregularidades é porque há falha na fiscalização. Investigar agora é preciso, mas o ideal é que isso fosse feito antes de uma tragédia.

O mesmo aconteceu em Brumadinho. A Vale, uma das maiores mineradoras do mundo, aparentemente, ignora os riscos reais dos rompimentos de barragens, apontados nos laudos divulgados pela imprensa, não só sobre a do Córrego do Feijão, mas de tantas outras que se encontram no estágio de Zona de Atenção. De acordo com o Ministério Público de Minas Gerais há algumas com "severo risco de rompimento" das estruturas.

Agora, depois do tsunami de lama que acabou com mais de 300 vidas, a Câmara dos Deputados abre CPI, as Prefeituras locais se manifestam e todos demonstram indignação de algo que também poderia ter sido tratado de forma menos permissiva.

Outro trágico exemplo é do Flamengo. Depois de uma reestruturação administrativa, aparentemente, goza de saúde financeira que há anos não se via. Investe pesado na contratação de jogadores, além de aportar milhões na construção do Centro de Treinamento. No entanto, mantém um alojamento “provisório” e irregular que gerou uma consequência incalculável, pois foram 10 jovens vidas e isso não tem preço. Agora, chega Prefeitura, Bombeiro mostrando que não há autorização disso e licença daquilo, mas, novamente, só após o leite derramado, ou seja, de um incêndio avassalador.

Parafraseando o ícone Ricardo Boechat que, inclusive abordou o tema em seu último programa na rádio, a omissão, a impunidade e o esquecimento são aliados das tragédias nossa de cada dia.

Alan Pereira é jornalista e diretor na Contextual Comunicação

Você pode gostar
Comentários