Por O Dia

Muito oportuno lembrar Miltinho com sua inconfundível voz anasalada, no início dos anos 60, cantando, entre sambas de teleco-teco e letras românticas, um de seus grandes sucessos, a música Palhaçada: “Cara de palhaço, pinta de palhaço, roupa de palhaço, foi este o meu amargo fim. Cara de gaiato, pinta de gaiato, roupa de gaiato, foi o que eu arranjei pra mim. Estavas roxa por um trouxa pra fazer cartaz, na tua lista de golpista tem um bobo a mais, quando a chanchada deu em nada eu até gostei e a fantasia foi aquela que esperei... Cara de palhaço, pinta de palhaço, roupa de palhaço...Até o fim!” E qual a delirante relação entre Miltinho e meu grande amigo Winston Churchill, para quem “a democracia é a pior forma de governo, à exceção de todas as outras que têm sido tentadas de tempos em tempos”?

A democracia contemporânea se apoia em pilares fundamentais: todo o poder emana do povo e em seu nome e para o seu bem será exercido, por representantes escolhidos em eleições livres e diretas; todos são absolutamente iguais perante as leis, por suas obrigações e direitos; todas as normas sociais e jurídicas têm que estar apoiadas nos valores, nas necessidades, nos interesses e objetivos da nação para a realização do bem comum, ideal de convivência. Mas, meus caríssimos Vilfredo Pareto e Gaetano Mosca insistiam que as democracias seriam sempre ilusórias, sempre subordinariam os interesses da nação à ação predatória dos maus políticos, piratas sem olhos de vidro nem pernas de pau, corpos de pedra, almas de pedra, lobos famintos sempre comendo a riqueza e a honra das nações.

Nestes tempos sinistros, o Rio de Janeiro dá razão a Miltinho, Pareto e Mosca, a vida sangrando por toda parte, a dignidade aviltada pela recessão e o desemprego, saúde, educação, meio ambiente e segurança pública em caos. Estamos desonrando a democracia ao eleger governadores, deputados e vereadores que estão ou serão presos por crimes gestados no ventre amargo da corrupção, alguns ainda em tenebrosas transações nos porões de seus gabinetes sempre em festa, abrigando falsos servidores sem qualquer função a desempenhar nem horário a cumprir como qualquer mortal. Então, na lista dos golpistas há um bobo a mais: continuo com “cara de palhaço, pinta de palhaço, roupa de palhaço...” Até quando? Panta rei.

 

Ruy Chaves é especialista em educação

Você pode gostar
Comentários