Rio - O sistema de transporte por ônibus no Rio enfrenta uma grave crise. Somente entre 2015 e 2018, 10 empresas foram à falência. A situação se agravou com a instabilidade econômica do estado, que aumentou o desemprego, reduziu o número de passageiros e gerou queda na receita das empresas. Além disso, 182 ônibus foram incendiados em 2018, em atos de vandalismo.
Segundo números divulgados no 16º Congresso de Pesquisa e Ensino em Engenharia de Transportes do Estado, promovido pela Coppe/UFRJ, cerca de 2 milhões de pessoas deixaram de utilizar os ônibus nos deslocamentos diários, entre 2016 e 2018. Os coletivos, que até 2015 transportavam 9 milhões de passageiros/dia, agora levam 7 milhões, uma queda de 22%. A diminuição da demanda também se agravou nos últimos anos. Seja pela crise econômica, por competição de novas modalidades compartilhadas ou pela queda da qualidade de atendimento por ônibus, o fato é que o sistema público coletivo verificou uma perda média de 25,9% dos pagantes desde 2014.
A queda de investimentos do governo estadual também afetou o setor. Dados levantados pela Firjan mostram que, apesar do aumento de recursos de 2014 a 2016, as condições dos deslocamentos pioraram para as pessoas que têm renda mais baixa e moram nos bairros mais periféricos.
Uma forma de se obter avanço nessa situação seria o cumprimento da Política Nacional de Mobilidade Urbana (Lei Federal 12.587/2012), resultado de quase duas décadas de debates, e que completou cinco anos em janeiro de 2019. No entanto, poucas cidades concluíram um de seus principais instrumentos: os Planos de Mobilidade Urbana. Igualmente grave, em 2015, apenas metade das cidades brasileiras tinha Plano Diretor atualizado para servir de base ao planejamento sustentável da Mobilidade Urbana e Metropolitana, segundo o IBGE.
No caso da Região Metropolitana do Rio de Janeiro, a principal causa dos problemas de mobilidade deriva da falta de aplicação desse planejamento integrado, incluindo todos os municípios metropolitanos. A situação obriga a população a fazer longos deslocamentos diários, nos mesmos sentidos e horários. Além disso, há a inadequada cobertura do transporte de alta capacidade, sem integração operacional.
Como exemplo de boas práticas, a cidade de Niterói segue com a implantação do corredor de ônibus Centro x Praias Oceânicas, moderno sistema de transporte de média capacidade monitorado, beneficiando 78 mil pessoas diariamente; a modernização da frota de ônibus, com 86% dos veículos com ar condicionado, além de outros projetos de estruturação da mobilidade recomendados em seu novo Plano Diretor.
Já o Rio de Janeiro parou no tempo e no espaço, com o término dos Jogos Olímpicos. Lamentavelmente, não há notícias sobre a Implantação do Plano Diretor de Transporte Metropolitano (PDTU), que consumiu muito tempo e dinheiro nos últimos anos.
É crucial a reconfiguração do conceito do transporte público metropolitano, em coordenação com o desenvolvimento urbano e com a política tarifária capaz de viabilizar a modernização e operação do mesmo. É necessária a implantação da rede metropolitana integrada, que inclua a expansão do sistema sobre trilhos e o uso mais eficiente da Baía da Guanabara, base da mobilidade urbana sustentável na Região Metropolitana do Rio de Janeiro.
Eva Vider é engenheira de transportes e professora da Escola Politécnica da Universidade Federal do Rio de Janeiro.