Aristóteles Drummond, colunista do DIA - Divulgação
Aristóteles Drummond, colunista do DIADivulgação
Por O Dia

Rio - O movimento de 64 tem sido debatido pela sociedade brasileira, agora com mais liberdade e menos patrulhamento. Tanto que o documentário do Brasil Paralelo contou com centenas de milhares de assistentes, nos cinemas e no seu site, logo nos primeiros dias.

Vivi intensamente aqueles anos, jovem jornalista em O Jornal, que era o órgão líder dos Diários Associados, de Assis Chateaubriand. Fundei e dirigi o movimento da juventude que atuou no Rio, Minas e São Paulo, o Grupo de Ação Patriótica, cujo papel está registrado em muitos livros sobre o polêmico movimento. Nos 50 anos de 64, publiquei, pela Resistência Cultural, o livro Um Caldeirão Chamado 1964.

Tenho notado, no entanto, uma certa lacuna no importante, e diria até decisivo, papel da mulher brasileira na mobilização das forças vivas da sociedade no sentido de pressionar os militares para a inevitável intervenção, dada a gravidade e os riscos que o país corria naqueles dias.

Foram as mulheres que se organizaram, a começar pelo Rio, com a Campanha da Mulher Pela Democracia (CAMDE), liderada por uma dona de casa de classe média, Amélia Molina Bastos, que, depois de o movimento sair vitorioso, retornou a sua vida familiar. Tinha ao seu lado outras bravas senhoras, como D. Eudoxia Ribeiro Dantas. Em São Paulo, a decisiva Marcha da Família com Deus Pela Liberdade, que reuniu quase dois milhões de brasileiros nas ruas, foi comandada pessoalmente pela sra. Leonor Mendes de Barros, mulher do governador, por três vezes, Adhemar de Barros, e um dos artífices do movimento. E teve a seu lado mulheres admiráveis, como Maria Pacheco e Chaves, Maria Mesquita Mota e Silva e a vereadora Dulce Sales, entre outras.

A representação política das mulheres era expressiva e majoritariamente favorável ao movimento, como os casos das cariocas Sandra Cavalcanti e Ligia Lessa Bastos. Em fevereiro, as mulheres mineiras já haviam promovido uma manifestação em Belo Horizonte, que redundou no impedimento de um comício do então deputado Leonel Brizola.

A cortina de silêncio que procura deixar o movimento somente alvo de críticas, e todas na mesma direção, impede que se recorde que foi no período que o Brasil teve uma primeira mulher no Senado, Eunice Michiles (ARENA-Amazonas), e a primeira ministra de Estado, Ester de Figueiredo Ferraz, da Educação, com o presidente João Figueiredo.

Por último – mas não menos importante, sem dúvida –, a eleição do presidente Bolsonaro teve acolhida no eleitorado feminino, sensibilizado por sua defesa da família e dos princípios cristãos. Não há como se negar fatos.

Aristóteles Drummond é jornalista

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