Luís Pimentel - Divulgação
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Por O Dia

Rio - Já que recebi dois ou três comentários simpáticos sobre a crônica da semana passada, “Ofício de escrever”, falando de textos e de autores, tomei gosto e resolvi voltar ao tema. Desta vez, destacando alguns (três, pra começar) inícios de romances que quem leu e quem não leu deve guardar de cor. É que são perfeitos e lindos. A eles:

“Aos 16 anos matei meu professor de lógica. Invocando a legítima defesa — e qual defesa seria mais legítima? — logrei ser absolvido por cinco votos a dois, e fui morar sob uma ponte do Sena, embora nunca tenha estado em Paris. Deixei crescer a barba em pensamento, comprei um par de óculos para míope, e passava as noites espiando o céu estrelado, um cigarro entre os dedos. Chamava-me então Adilson, mas logo mudei para Heitor, depois Ruy Barbo, depois finalmente Astrogildo, que é como me chamo ainda hoje, quando me chamo.” “A Lua Vem da Ásia” (Campos de Carvalho)

“Nonada. Tiros que o senhor ouviu foram de briga de homem não, Deus esteja. Alvejei mira em árvores no quintal, no baixo do córrego. Por meu acerto. Todo dia isso faço, gosto; desde mal em minha mo cidade. Daí, vieram me chamar. Causa dum bezerro: um bezerro branco, erroso, os olhos de nem ser — se viu —; e com máscara de cachorro. Me disseram; eu não quis avistar. Mesmo que, por defeito como nasceu, arrebitado de beiços, esse figurava rindo feito pessoa. Cara de gente, cara de cão: determinaram — era o demo.” “Grande Sertão: Veredas” (Guimarães Rosa)

“Se querem mesmo ouvir o que aconteceu, a primeira coisa que vão querer saber é onde nasci, como passei a porcaria da minha infância, o que os meus pais faziam antes que eu nascesse, e toda essa lenga-lenga tipo David Copperfield, mas, para dizer a verdade, não estou com vontade de falar sobre isso. Em primeiro lugar, esse negócio me chateia e, além disso, meus pais teriam um troço se contasse qualquer coisa íntima sobre eles. São um bocado sensíveis a esse tipo de coisa, principalmente meu pai. Não é que eles sejam ruins — não é isso que estou dizendo — mas são sensíveis pra burro. “O Apanhador no Campo de Centeio” (J.D. Salinger)

A Libre – brava Liga Independente das Editoras – já está em campo com o seu Esquenta Primavera: palestras, saraus, debates e vendas de livros acontecem, este mês e no próximo, em quatro universidades fluminenses. E a tradicional Primavera Literária do Rio será, mais uma vez, no Museu da República, na primeira semana de outubro.

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Autor de livros em variados gêneros (conto, poesia, infanto-juvenil, música e teatro), estou lançando o meu primeiro romance (“Danação”, Editora 7Letras) e aproveito este espaço para convidar todos os meus amigos. Será nesta quarta-feira, dia 10, no Bip Bip (Rua Almirante Gonçalves, 50, Copacabana), entre 20 e 23 horas. É só chegar.

Luís Pimentel é jornalista e escritor

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