Julio Furtado - Divulgação
Julio FurtadoDivulgação
Por O Dia
Rio - Tem se tornado frequentes episódios de desacato e agressões de alunos a professores que viralizam através das mídias sociais, vão parar na mídia jornalística e tornam-se alvo de debates, acusações e generalizações a respeito da função da escola, do papel do professor e do comportamento dos alunos. O episódio da vez é a agressão a uma professora em uma escola de Carapicuíba, SP. O contexto, quase sempre, é semelhante. Alunos em desordem, gritando, arremessando objetos e carteiras, chutando portas, etc. e professores acuados, vitimados por agressões de toda ordem.

Frequentemente somos procurados por veículos de comunicação que buscam respostas imediatas e objetivas para os casos como esse através de perguntas como: “de quem é a culpa?”, “o que fazer para resolver o problema da violência escolar?”. A situação é complexa e não é passível de análise simples e objetiva como frequentemente se tenta fazer.

A experiência mostra que a utilização competente de metodologias ativas de aprendizagem, em que os alunos não assistem passivamente às aulas, mas constroem hipóteses e buscam respostas, a integração eficaz entre escola e família, a aproximação entre escola e comunidade e a apropriação afetiva da escola pelos alunos são os principais antídotos contra a violência escolar. Tais ações, porém, dependem da real mobilização da equipe gestora para que ocorram. É um trabalho coletivo de persistência, de divisão de responsabilidades e de compromisso com o ato de educar.

Os incidentes que volta e meia povoam a mídia ocorrem, em geral, em escolas que possuem uma cultura de indisciplina e violência, o que confirma a lógica apontada em pesquisas de que a solução da indisciplina e da violência escolar passa por uma mudança de cultura da escola, que precisa ser implantada pela equipe gestora e ter a adesão e compromisso de todos os componentes da escola. O processo de mudança é de médio a longo prazo, para que ocorra de dentro para fora, como exige todo processo educacional e passa por construção coletiva, por boa formação e remuneração docente, por estruturação das escolas e por uma gestão mobilizadora. Sem esse encadeamento de fatores, vamos continuar com essa abordagem episódica que só serve para reforçar a busca de culpados, numa abordagem parcial e descomprometida que, no fundo, não aborda uma guerra entre alunos e professores, mas sim um confronto de vítimas de uma estrutura cruel.
Júlio Furtado é professor e escritor