O encontro não durou mais do que cinco minutos e eu poderia contar o número de palavras que disse nesse tempo. Quando tentava perguntar algo ou comentar uma resposta, a próxima pergunta surgia incisiva, junto com o desinteresse por qualquer coisa que eu pudesse dizer além do que ele perguntava. Durante o voo, pus-me a pensar sobre o ocorrido e sobre a falta da habilidade de dialogar que assola os nossos tempos.
Só para recordar, diálogo á uma ação entre duas pessoas que se alternam como falantes e ouvintes, com o objetivo de enriquecer a ideia central da conversa. Nessa alternância, é essencial que enquanto um ouve o que o outro diz, pense no que está ouvindo e produza uma síntese do que pensa sobre o que ouviu e esse será o objeto de sua próxima fala. Se ambos tiverem esse comportamento, o resultado será uma ideia amadurecida e, no mínimo, uma maior compreensão sobre a forma de pensar do outro.
A falta de diálogo que vivenciamos hoje parece resultante de um desinteresse por amadurecer ideias e um enorme esforço para ter razão. Talvez já estejamos colhendo as consequências de gerações criadas sem limites que deram origem aos adultos que não toleram opiniões diferentes das suas. Tudo isso é agravado pela ascensão das mídias sociais que permitem que discordemos sem ter que argumentar ou ouvir nada em contrário. Caso ocorram divergências, basta excluir.
Parece urgente uma providência educativa, caso queiramos resgatar o diálogo enquanto estratégia essencial ao amadurecimento humano e a escola pode (e deve) dar sua contribuição, levando as crianças e jovens a exercitarem a nobre arte de dialogar. Precisamos aprender a ouvir sem medo e descobrir que nossas certezas podem ser questionadas e que isso é a essência do amadurecimento.