Renata Bento - Divulgação
Renata BentoDivulgação
Por O Dia
Rio - Todos nós sabemos que para ser pai e mãe não existe um manual, e nem os filhos chegam com tutorial; o dia a dia pode ser desgastante e um desastre emocional para a prole, quando os pais não conseguem ter uma linguagem comum. Em situação ideal, um casal tende a conversar e projetar no futuro o que cada um imagina sobre a criação dos filhos, mas na prática, isso não acontece, e, quando nascem os filhos, nascem também as dificuldades. É também nesse momento que irá surgir como em um passe de mágica, a forma como cada um pensa a educação e como cada um vai desejar educar, muitas vezes passando por cima do que o outro genitor pensa e acredita.

Com o nascimento de uma criança nasce também um pai e uma mãe, trazendo consigo uma enxurrada de aspectos inconscientes, advindos de relações primitivas sobre a forma como foram cuidados. Há também a inexperiência na arte do convívio e na relação com esse novo integrante.As pessoas não são iguais e pensam diferentes, e tudo bem; desde que essas diferenças não atrapalhem ou bloqueiem o processo de amadurecimento das crianças. Se as divergências são muito significativas, a criança poderá se sentir desamparada e desejar tomar o controle da relação parental, tirando um dos pais do lugar central, saindo ela do lugar de criança, e, dificultando ainda mais a harmonia familiar, além de prejudicar o seu processo de desenvolvimento emocional, deixando-a com uma série de sintomas advindas do conflito parental que a arremessa na indecisão: ‘a quem devo escutar’? Provavelmente a criança escolherá o que lhe parecer mais fácil, sem que ela tenha competência para essa escolha.

É muito comum observar no consultório a dificuldade que os pais têm em fazer acordos quanto ao que cada um pensa sobre como educar uma criança, além disso há também a objeção em ceder. Ceder também não tem que ser uma competição de cada um cede uma vez e sim, significa observar as necessidades da criança e fazer a escolha coerente dentro do que é melhor para o seu desenvolvimento.

Há pais que discutem na frente dos filhos sobre aspectos divergentes, como por exemplo, uma criança que estuda no período vespertino: um quer que a criança faça os deveres logo depois que chega da escola, mas o outro acha que a criança está cansada, que deve descansar e fazer no dia seguinte antes da escola. Para cada um dos pais, esse modelo tem um tipo de valor. E por conta disso, todos os dias brigam na frente da criança.

Quem está certo? Provavelmente cada um terá seus motivos para justiçar seu ponto. Se um deles discorda, vai precisar aguardar o momento a dois para uma conversa a respeito. Também não adianta um concordar (falsamente) com o outro e quando o filho vier reclamar, dizer a ele que isso ocorre assim porque, ‘a sua mãe mandou’ ou porque ‘isso é coisa do seu pai, por mim eu deixava’. A criança se sentirá segura se os pais trocarem o ‘EU’ pelo ‘NÓS’. Deste modo, dizer ao filho, ‘nós pensamos que assim é bom para você’ ou ‘eu e sua mãe acreditamos que é melhor desse jeito’. Com esse tipo de linguagem a criança ficará no lugar de criança, isso diminuirá a ansiedade dela e favorecerá seu amadurecimento.

*Renata Bento é psicóloga perita em Vara da Família e assistente técnica em processos judiciais