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Por Geraldo Nogueira Assessor de gabinete do prefeito do Rio de Janeiro

Morava em Niterói e estava indo à praia de Piratininga. Haviam muitos carros estacionados pelas ruas e os espaços na areia eram disputados por uma multidão de pessoas com suas barracas e cadeiras de praia. Consegui uma vaga para estacionar a alguns metros do calçadão. Minha mulher pegou as crianças e foi na frente buscar um espaço na areia. Fiquei montando a minha cadeira de rodas para segui-los logo depois. Fui pelo asfalto me arriscando entre os veículos que manobravam para estacionar na rua ou sobre a calçada.

Quando cheguei próximo ao calçadão da orla, observei um grupo de homens às gargalhadas. A mesa que ocupavam estava abarrotada de latas de cerveja. Eram trabalhadores que sobreviviam de bicos feitos para os comerciantes que exploram o comércio local. Mudei de direção, indo mais para o outro lado da rua, na tentativa de evitar o contato com aqueles homens. No entanto, um deles cruzou seu olhar comigo. Foi quando, interrompendo uma de suas gargalhadas, levantou-se de pronto. Meu coração gelou, pois havia sido descoberto e o contato imediato com o terceiro grau da bebedeira agora era iminente.

O rapaz bamboleou o quadril tentando encontrar algum ponto de equilíbrio. Deu um primeiro passo e saiu numa pequena disparada, da qual procurava se recuperar. Mas continuou com o olhar fixo em mim, procurando alcançar-me. Eu buscava dar velocidade à cadeira de rodas, mas o enorme número de pessoas que transitavam pela orla, não permitia manobras mais arrojadas e nem que imprimisse maior velocidade à cadeira. Não demorou até que o homem me alcançasse. Foi logo agarrando a manopla de minha cadeira fazendo-a parar instantaneamente. Curvou-se sobre mim e disse: - vamos tomar uma cerveja! Sua voz estava grave e sua língua embolava. Tentei argumentar, mas ele não aceitou minha negativa e puxando-me, começou a conduzir-me em direção aos seus colegas de gelo.

A cadeira lhe servia de apoio e minha resistência física foi em vão. Então, finalmente me rendi à sua insistência e deixei-me ser conduzindo, enquanto, feliz, ele balbuciava coisas incompreensíveis. Quando chegamos onde estavam os seus companheiros formou-se uma pequena confusão. Alguns queriam que me sentasse em uma das cadeiras do quiosque e outros ofereciam-me uma bebida. De repente iniciou-se uma discussão entre eles.

Levei um certo tempo para entender o que estava acontecendo, mas compreendi que discutiam sobre o que eu deveria beber, cerveja ou refrigerante. Venceu os que defendiam a tese do refrigerante. Afinal entenderam que um cadeirante não deveria tomar bebida alcoólica. Gritaram ao garçom que me servisse um guaraná e logo, diante mim, estava um copo com a bebida gelada.

Não discuti, só agradeci e tomei aquele copo de refrigerante que desceu suave e refrescante. Depois me despedi e fui afastando-me devagar. Uma nova confusão iniciou-se, desta vez para decidir quem me levaria de volta. Um rapaz que estava na mesa ao lado, percebendo o meu desespero, veio em meu socorro. - Pode deixar que o levo. Os bêbados se resignaram e, finalmente, saí dali conduzido por um desconhecido que me afastou daquela situação inusitada. Aprendida a lição de que bêbados amam cadeirantes e a melhor opção é fugir deles.

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