![Guilherme Pimentel - Divulgação](https://odia.ig.com.br/_midias/jpg/2020/03/06/1140x632/1_defensoria-16096902.jpg)
Já em 26 de dezembro, com a presença da Defensoria Pública, uma assembleia reuniu tantos moradores que lotou a igreja local. A articulação da Associação de Moradores Morena com a Região Administrativa e com o Conselho Comunitário de Segurança organizou a população sob o lema #RespeitaPaquetá. E ao longo dos 57 dias seguintes a comunidade se manteve ativa e forte, vencendo as adversidades que surgiam.
A primeira delas foi justamente não ter sido consultada antes da decisão da mudança da grade. Como Ouvidor da Defensoria, tive o privilégio de manter a interlocução com os moradores da ilha e assim colaborar para que a Defensoria prestasse o melhor serviço possível à população. Recebi informações das instituições públicas de saúde e educação de que os serviços seriam comprometidos com as alterações anunciadas. Os dados foram repassados ao Núcleo de Defesa do Consumidor da Defensoria, cuja atuação manteve-se fiel ao que desejava a população organizada.
A partir desse trabalho em conjunto, foi conquistada uma difícil mesa de negociação que conseguiu adiamentos e concessões por parte da CCR, mas não a solução do problema.
Com o reinício das atividades da Assembleia Legislativa, porém, a mobilização ganhou ainda mais ânimo. A injustiça era tamanha que nenhum dos deputados estaduais defendeu a nova grade de horários.
Da mobilização nasceu o acordo do último dia 20, entre Estado do Rio de Janeiro, CCR Barcas, Defensoria Pública e Ministério Público, o que garantiu a volta da antiga grade de horários.
O desfecho nos permite extrair pelo menos quatro importantes aprendizados. O primeiro é que políticas públicas descoladas da escuta da população são estranhas à democracia e podem trazer danos graves ao bom funcionamento das cidades. O segundo é que nada substitui a mobilização popular organizada e autônoma na luta por direitos. O terceiro é que a população tem na Defensoria Pública uma instituição fundamental para a defesa de seus direitos. O quarto aprendizado é que a criação de Ouvidorias Externas em órgãos públicos pode ser uma experiência importante nesses tempos que têm exigido de nós entrosamento entre a potência democrática da sociedade civil e a força do saber técnico disponível nos serviços públicos.
*Guilherme Pimentel é Ouvidor-Geral externo da Defensoria Pública do Rio para o biênio 2020-2021