Israel Rocha - Divulgação
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Por Israel Rocha*
A síndrome de Down é uma condição genética que não é rara. Aliás, é a principal causa de deficiência intelectual causada por mutação genética no Brasil. Mas o que isso tem de especial? O que isso tem a ver com o que queremos conversar? Tudo! As pessoas com síndrome de Down durante muitos anos, e séculos também, tiveram seus direitos negados, negligenciados pela sociedade de modo geral que as via, e ainda as vê, como eternas crianças, como pessoas que não podem realizar determinadas atividades, como pessoas incapazes, como tendo sexualidade aflorada, dentre uma série de mitos que devemos desconstruir.

Ora, quem disse que todo mundo é capaz de realizar as mesmas atividades ou as mesmas coisas que todo mundo? Tenho um amigo que não tem síndrome de Down e que tem pós-doutorado e não sabe andar de bicicleta e nem nadar. Entretanto, conheço pessoas com síndrome de Down, já que venho estudando essa síndrome há alguns anos, que não só sabem andar de bicicleta ou nadar, como também fazem faculdade, se formaram, trabalham em atividades profissionais que requerem conhecimentos científicos elaborados, dentre uma série de ações. Basta acessar a internet para achar muitas pessoas com essa condição sindrômica que estão no mercado de trabalho, concluíram cursos superiores, são atores/atrizes, namoram, casam, viajam, ou seja, têm uma vida comum como qualquer outra pessoa.

O dia em que se comemora o Dia Internacional da Síndrome de Down, 21 de março, é uma ocasião que nos faz refletir que apesar de muitos avanços, ainda permanece enraizado no seio da sociedade um ranço muito grande em relação às pessoas com deficiência. Parece que essas pessoas não podem alcançar níveis superiores de desenvolvimento. Mas o que esperar de uma sociedade que ainda vê mulheres, negros, gays, com olhares enviesados e preconceituosos? O preconceito é uma construção social. Vencê-lo é um processo de transformação cultural, histórica e social muito difícil, uma vez que incide sobre o modo como enxergo o outro e se esse outro é mostrado pela mídia como tendo um único padrão estereotipado de “beleza e normalidade”, romper com isso é muito difícil.

Mas, as pessoas estão mudando. As pessoas estão lutando por seus direitos. As pessoas estão saindo do lugar comum e buscando outros espaços para se mostrarem como elas são, e é isso que é legal: ser você na diversidade. Assim, mais uma vez, e quantas forem necessárias, lutamos e lutaremos para que o preconceito seja vencido. Para que pessoas como as que têm síndrome de Down, por exemplo, possam ser vistas pela sociedade como cidadãs de direito, como pessoas que possuem uma característica que as tornam diferentes. Mas aí pergunto: somos iguais? Não, somos diferentes! E é essa diferença que faz com que sejamos únicos em nossa existência.

*Israel Rocha é autor, com Rogério Drago, do livro “O Bebê com Síndrome de Down”