Eugênio Cunha - Divulgação
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Por Eugênio Cunha*
Mesmo em momentos tão difíceis em razão do coronavírus, em que as atenções se voltam para as consequências da pandemia, não podemos esquecer que a vida continua. O Dia Mundial de Conscientização do Autismo é 2 de abril.

Para marcar esta data, gostaria de lembrar o caso de Leo, um adolescente com Transtorno do Espectro Autista (TEA), que estuda numa escola inclusiva. Anteriormente, ele fora uma criança não verbal, com momentos de autoagressão e com pouquíssima interação social. Alguns diziam que seu quadro era severo e que dificilmente iria aprender. Mas seus pais não viam assim, nem seus professores. “Educação escolar, terapêutica e alimentar”: foi o que disseram e fizeram. O quadro severo passou a fazer parte do passado. Leo começou a frequentar uma sala do ensino comum, aprendendo com os demais da sua idade. Hoje, no sétimo ano do Fundamental, sua interação na escola é tão natural, que faz esquecer o transtorno.

Podemos ver a história de Leo como uma superação de sintomas severos do autismo. Sabemos que não é sempre assim. Há casos cuja severidade luta contra a nossa esperança. Mas, ainda assim, o trabalho poderá suscitar ganhos e todo ganho será sempre um progresso. Os resultados positivos no ensino de Leo só foram alcançados por causa do esforço de familiares e educadores, materializando leis que vieram garantir direitos.

Este ano, por exemplo, foi promulgada a Lei 13.977, que cria a Carteira de Identificação da Pessoa com TEA. Em 2019, a Lei 13.861 incluiu o autismo nos censos demográficos, com o objetivo de direcionar as Políticas Públicas para que os recursos sejam corretamente aplicados.

Essas ações só foram possíveis por causa da Lei Federal 12.764/12, conhecida como Lei Berenice Piana, que instituiu a Política Nacional de Proteção dos Direitos da Pessoa com Transtorno do Espectro Autista.

Hoje, é preciso fazer uma reflexão: essas e outras leis têm sido suficientes? De fato, os debates foram incrementados pela visibilidade que a causa ganhou na sociedade. Porém, ainda falta muita coisa a ser feita.

Crianças com TEA ainda são rejeitadas em escolas; outras, ainda que incluídas, não recebem atendimento adequado. Escolas e universidades não estão correspondendo às demandas da inclusão; professores, em sua maioria, não são formados para lidar com os desafios pedagógicos cotidianos. Existe, também, um vaco no ensino de adolescentes e adultos, além disso, não há ações que garantam a formação profissional e nem a empregabilidade da pessoa com TEA.

Em dias em que devemos cuidar uns dos outros, em que corpos ficaram separados não por preconceito, mas por necessidade, é preciso responder uma pergunta: a inclusão está dentro de nós? Tenho dito que ela começa sem rótulos interiores, sem barreiras no coração; depois, move nossa alma, contagia nossos sonhos e amplia nossos ideais.

*Eugênio Cunha é professor e autor de livros sobre autismo