Cid Pitombo - Divulgação
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Por Cid Pitombo*
Estamos vivendo um momento de discussões calorosas sobre vida e sobrevivência. Os que defendem a vida; chamam atenção para uma trágica pandemia, em um cenário de guerra, com muitas mortes e doentes. Os da sobrevivência; divulgam números e dados, indicando que irão morrer mais pessoas de outras doenças, fomes e suicídios; como efeito do confinamento em decorrência da própria pandemia de coronavírus. Agridem-se, medem forças, ultrapassam limites.

Em momentos de histeria, está evidente que se dificulta a manutenção do equilíbrio, do respeito. Mas quem realmente está certo?

Vivemos sim uma grande pandemia, voltamos a ser indígenas, que ao contato com uma “gripezinha” vinda de outro país, adoecemos e morremos. O problema é que não estamos mais em florestas, vivemos aglomerados. Já tínhamos uma enorme quantidade da população doente ou suspeita, utilizando os hospitais, lotando corredores, brigando por vaga na UTI. Portanto, onde arrumar espaço para tantas outros que irão necessitar? Medidas de isolamento social para ganhar tempo e permitir a estruturação do sistema de saúde devem e estão sendo tomadas.

Por outro lado, e os pacientes que necessitam de tratamento para outras doenças como câncer, insuficiência renal, obesidade, que precisam de acompanhamento constante, quantos também morrerão com adiamento de cirurgias? Qual realmente é a medida do custo da morte? Mortes por coronavírus, morte por acidente de carro, pela violência urbana e em decorrência dos efeitos da obesidade?

E, apesar de médico, não estou apartado da sociedade em que vivo e, por isso, também questiono: e o fator econômico? Quantos irão fechar portas, perder emprego, morrer de fome, deprimir, ruir, se esse isolamento se prolongar por três, quatro, cinco meses...

O que está em discussão, e parece que temos que ter muito equilíbrio para perceber e refletir, é a sobrevivência! Sobrevivência individual, dos países e do mundo.

As entidades médicas e os pesquisadores terão que parar de pensar somente em um vírus e pensar no ser humano como um todo. Precisamos estar saudáveis, mas para isso precisamos comer e viver, para poder sobreviver. Isso não só envolve as medidas de cuidados em prevenção de qualquer doença, mas também na “saúde” econômica.

Passado o isolamento inicial, para evitar o colapso da saúde, que se abram as discussões entre os dois grupos, pois viver tem uma relação direta com sobreviver.

*Cid Pitombo é médico, pesquisador, coordenador do Programa de Cirurgia Bariátrica do Estado do Rio de Janeiro