Márcio Ayer - Divulgação
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Por Márcio Ayer*
A pandemia causada pelo Covid-19 tem imposto ao mundo grandes desafios, que podem ser sintetizados em duas frentes: cuidar dos doentes e evitar que o vírus se espalhe, e mitigar os impactos negativos na economia, preservando empregos.

No Brasil, as empresas foram orientadas a praticar home office para evitar a circulação e aglomeração de pessoas. A recomendação das autoridades é que a população permaneça em casa. Há, no entanto, uma parcela de trabalhadores extremamente vulnerável: os profissionais de supermercados - mais de 100 mil só na cidade do Rio. Enquadrados no rol de atividades essenciais, que não podem simplesmente fechar as portas, os supermercados têm sido palco de grandes e perigosas aglomerações, geradas pelo temor de uma escassez de produtos.

Este comportamento é incentivado pelas grandes redes, que têm veiculado campanhas publicitárias na TV estimulando o consumo. Enquanto comemoram o grande aumento no faturamento em plena crise, as empresas expõem seus trabalhadores ao risco da doença. Um operador de caixa, por exemplo, atende a centenas de clientes todos os dias e fica a centímetros deles. Maneja mercadorias, cartões e dinheiro em espécie, potencialmente contaminados. Trabalhando nessas condições, a chance de ser infectado é enorme. E uma vez infectado, passa a ser também ele um agente de propagação do vírus.

Diante desta situação, o mais sensato a se fazer é regular o acesso da população a estes estabelecimentos e resguardar ao máximo a saúde dos trabalhadores. Algumas iniciativas mínimas são necessárias, como a disponibilização de água, sabonete, toalha de papel e álcool gel a todos os trabalhadores, além da higienização obrigatória das mãos dos consumidores, antes do acesso à loja, como já ocorre em vários supermercados no sul do país.

Além disso, é fundamental reduzir a jornada de trabalho e diminuir o efetivo para 30% dos funcionários, liberando todos aqueles que pertencem ao grupo de maior risco, como idosos, diabéticos, hipertensos e asmáticos, assim como as trabalhadoras grávidas e aquelas que voltariam às suas atividades no período da quarentena.

Em paralelo, o governo deveria adotar providências para reduzir o impacto negativo da crise na economia. Mas, na contramão disso, Bolsonaro editou a Medida Provisória 927, que autorizava as empresas a deixarem de pagar salários por quatro meses. Diante da repercussão negativa, em poucas horas o presidente foi obrigado a revogar este ponto. Mas o Ministério da Economia voltou a sinalizar com intenção de autorizar a redução nos salários, o que poderia constar em uma nova MP. Seria um erro grave, pois além de covarde, a medida é recessiva e aprofundaria a crise econômica.

O momento é de garantir os empregos, sem redução salarial, para que as famílias possam continuar consumindo, o que contribui para a superação da crise. É hora também de resguardar a saúde de todos, inclusive dos trabalhadores. Não há espaço para omissão, irresponsabilidade e ganância.

*Márcio Ayer é presidente do Sindicato dos Comerciários do Rio