Ricardo Brand - Divulgação
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Por Ricardo Brand*
Em carta aberta às instituições bancárias, a Abrasel - Associação Brasileira de Bares e Restaurantes -reivindica crédito emergencial e barato para capital de giro. Um pacote com direito a um ano de carência para o primeiro pagamento, taxas de juro próximas da Selic, renegociação de dívidas e prazos maiores para sua quitação. Tudo sem certidão negativa de débito.

É o Brasil que produz e alimenta, já sem oxigênio, que pede ajuda ao sadio setor financeiro nacional. Nas palavras do documento, este teria plenas condições de mostrar "uma resposta imediata a todas as pessoas físicas e jurídicas, incluindo governos, que ajudaram os bancos a terem lucros vultosos, em um país com diferenças abissais”.
 
Argumenta a Abrasel que sua proposta socorreria uma indústria que, junto com a construção civil, oferece o maior número de empregos no Brasil. De acordo com a associação, bares e restaurantes são responsáveis diretos por 2 milhões de pequenos negócios e a geração de, no mínimo, 5 milhões de empregos. Antes do advento da pandemia, esses estabelecimentos contribuíam com cerca de 450 mil novas oportunidades de trabalho por ano. É inegável que as consequências sociais de sua derrocada seriam devastadoras.

A salvação desse ramo do comércio interessa ao governo não apenas pela ótica do emprego. Com uma tributação ancorada no consumo, o setor contribui de forma relevante para o equilíbrio das finanças públicas. Vale lembrar que mais de 70% do valor de cada cerveja vendida no botequim reforça o orçamento de União, Estados, Municípios e Distrito Federal. Não é pouca coisa. Por fim, alimentação é cultura e lazer, o que dizer do desempenho do turismo sem a participação dinâmica desses empreendedores?

Embananado na política e na gestão da crise, o poder público tem se mostrado incapaz de dar uma resposta à altura do problema. Ante esse panorama, nada mais lógico do que buscar parceria com um dos poucos segmentos que ainda tem condições de socorrer empresários e trabalhadores no caos nosso de cada dia. Questão, também, de autopreservação, afinal, o setor bancário depende do funcionamento regular da economia para cumprir seu objeto social e auferir lucro.

Faltam elementos para saber se o pacote demandado pela Abrasel é viável econômica e juridicamente. Difícil, também, avaliar se uma inciativa dessas proporções acabaria por afetar a saúde das instituições financeiras. Entretanto, não é nada mau assistir o empresariado buscar soluções que não tenham por premissa se socorrer, como diz o jornalista Elio Gaspari, na bolsa da viúva.

*Ricardo Brand é auditor fiscal da Receita Estadual do RJ