Selma Ciornai - Divulgação
Selma CiornaiDivulgação
Por Selma Ciornai*
Estamos vivendo uma situação nova, de isolamento, frente a uma ameaça invisível e diante da incerteza em relação ao que virá. Do ponto de vista psicológico esta situação gera emoções diversas: incredulidade, raiva, medo, tristeza, angústia, sensações dolorosas de solidão, confusão, desespero e desamparo, além de somatizações como dores na coluna, de cabeça e gastrite. Também ocorrem comportamentos aditivos como comer ou beber em excesso e até o consumo de drogas como forma de aliviar emoções que às vezes se tornam pesadas demais. Em pessoas idosas, grupos de risco, a sensação de ameaça aumenta. E processar tudo isso sozinhos não é fácil.

Mas, nem sempre temos realmente com quem abrir nossos corações e considerar o que sentimos. É aí que um atendimento terapêutico pode ser valioso. Como vários colegas estou atendendo online. Poder comunicar e elaborar nossos sentimentos, em diálogo com alguém que escuta com atenção, proporcionando outras perspectivas e uma compreensão ampliada do que nos ocorre, ajuda a não nos sentirmos sós e a abrir janelas onde antes só víamos muros.

No entanto, nem sempre conseguimos nomear o que sentimos... E é aí que a Arteterapia entra como aliada nesta época de isolamento. A arte é uma linguagem que prescinde de palavras, que nos ajuda a expressar e organizar nossas emoções e percepções em formas, símbolos e cores. Poder observar e dialogar com o que criamos, acompanhados da presença de um/uma arteterapeuta pode nos revelar a nós mesmos e nos proporcionar a possibilidade de vislumbrar outras alternativas na forma como nos percebemos e nos relacionamos conosco mesmo, com os outro e com a vida. Facilita inclusive que possamos contatar suportes internos esquecidos que criamos em outras épocas em que enfrentamos situações adversas. A arte possibilita isto pois ao dialogar com nossas próprias criações nos damos conta do que inconscientemente expressamos, e também, porque podemos concretamente criar novas soluções.

A uns anos atrás a exposição “As meninas do quarto 28”, mostrou o poder da arte na sobrevivência emocional de meninas de 11 a 15 anos detidas no campo de concentração de Theresienstadt.
Toda atividade expressiva é revitalizante, prazerosa e um bálsamo para a alma. Na internet podem ser encontradas vários sites com tutoriais de como trabalhar com diferentes materiais e técnicas, como origami, aquarela, etc.

Mas, se você tem se sentido angustiado ou deseja aproveitar esta oportunidade para um mergulho mais profundo em você mesmo, procure um/uma arteterapeuta. Certamente será um processo valioso, que lhe ajudará a sentir-se criativo, e a identificar travas que dificultam suas possibilidades de uma existência mais plena, mesmo em tempos de coronavírus.
*Selma Ciornai é organizadora do livro "Arteterapia no processo de envelhecimento”