Wendel Freire - Divulgação
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Por Wendel Freire*
Com o mundo em quarentena, as telas digitais vêm compondo estratégias de ensino e aprendizagem a distância; não apenas para o ensino superior, no qual possui amparo legal, mas também na educação básica, com certa insegurança jurídica e muita controvérsia. Insegurança e controvérsia que aumentam se observarmos a questão ampliada pela crise política brasileira. Entretanto, iremos abordar o tema a partir da compreensão pedagógica, tendo em mente a formação que se estende da educação infantil ao ensino médio.

Nossos alunos chegaram ao mundo em uma época muito conectada e veloz. Mas é importante ressaltar que a conexão chega diferente aos lares. Parte significativa dos alunos da rede pública não possui dispositivos digitais ou acesso à internet. Daí uma primeira dificuldade para se chegar a uma solução que não se apresente desigual. É igualmente importante assegurar que a velocidade não crie sujeitos instantâneos, sem uma formação que lhes permita encontrar soluções e respostas duradouras ou visões profundas e críticas do mundo - algo que o chão da sala de aula mostra-se bem mais capaz de promover. Por essa razão, entre outras, é que o EaD não é permitido na educação básica.

Os meios digitais, para instituições com clareza de meta e método, podem auxiliar em transformações profícuas para a realidade escolar. Se exploram o potencial dialógico, democrático, criativo e emancipatório que porventura os dispositivos digitais apresentem, as escolas podem contribuir com o alargamento da pesquisa, da compreensão dessa linguagem híbrida, móvel, recombinável e fugaz. Ao fechamento repentino e necessário das escolas, seguiram-se uma série de reproduções virtuais do chão da escola. Sobretudo pela rede privada, sob a sombra de um sufoco econômico, a continuação da prestação de um serviço pago se tornou imperativa. As soluções, grosso modo, soam transmissivas e pouco exploram o potencial criativo e dialógico da comunicação digital. Pudera. Como constituir um plano de ensino a distância que seja pedagogicamente honesto e ético sem tempo, sem formação dos professores e sem reflexão mínima?

“Perfeição dos meios e confusão dos fins parecem caracterizar nossa era”. É precisa e incômoda a frase de Albert Einstein. Tecnologias da informação e da comunicação surpreendem a cada salto, apresentam um mundo cheio de possibilidades técnicas, deixam muitas vezes promessas de um futuro brilhante; entretanto, nos perdemos em nossas escolhas e nos debatemos na superficialidade dos nossos planos.

É possível que um desenho por vir combine responsavelmente programação presencial com momentos a distância, de modo a assegurar acesso aos dispositivos, à Internet, ao conhecimento, de forma a emancipar intelectualmente estudantes. Há aprendizagens aceleradas em curso e o que faremos delas no retorno à normalidade terá grande impacto. Diante de um mundo adoecido para além do coronavírus, é hora de ajustarmos as bases políticas, econômicas e, claro, educacionais sobre as quais construiremos nosso futuro.
*Wendel Freire é autor do livro “Tecnologia e Educação: as mídias na prática docente”