Como escritora, tento entender esse momento fazendo uma analogia ao meu próprio ofício. O autor vivencia a solidão durante seu processo de criação. Uma solidão escolhida e necessária para que surja a inspiração. A diferença é que o sentimento de quem está isolado em casa ou numa UTI, ou mesmo quem perdeu um ente querido sem se despedir, é o da solidão forçada. O mundo parou e as pessoas se viram obrigadas a seguir novas regras e costumes. Deixar de ir à escola, fechar o comércio, fazer trabalho remoto e cumprir o isolamento social não foram escolhas pessoais, e sim uma imposição em prol do coletivo.
É certo que o isolamento imposto tem seus aspectos negativos, mas também nos dá a oportunidade de tirar lições positivas. Por que não aproveitar o momento para se voltar à solidariedade, como muitos têm feito? Podemos e devemos sair dessa pandemia melhores e mais humanos.
E enquanto a crise persiste, faça como o velho marinheiro do samba de Paulinho da Viola, “que durante o nevoeiro leva o barco devagar”. O barco é nossa casa e o mar é a rua. Ainda não é prudente se lançar ao mar. A solução é ficar no barco até o nevoeiro do coronavírus passar.
*Isa Colli é escritora e jornalista