Paloma Paixão - Divulgação
Paloma PaixãoDivulgação
Por Paloma Paixão*
- Corre, vem assistir à live!
- Já entrou no Facebook pra ver qual o exercício da semana?
- Vou fazer a aula de educação física, cadê o celular?

Provavelmente nenhum de nós imaginou ouvir essas frases, em pleno 2020. O distanciamento social imposto pela pandemia do coronavírus vem convulsionando as vidas e rotinas. Convivência extrema nos confinamentos, novas formas se impõem também à educação. Mas imperioso é perguntar: de que educação estamos falando? Sem dúvida alguma, o recorte de atenção tem sido sobre a educação realizada nas escolas – a preocupação com o conteúdo curricular. Feito o recorte, verificamos o desdobramento de escolas, secretarias e da gestão pública para prover professores e alunos neste novo momento. Aos professores, coube ‘pipocar’ no aprendizado emergente de uma educação à distância, com as ferramentas possíveis: redes sociais, sites, links e todo universo internético. Aos pais, entre os que podem realizar trabalhos à distância, cabe administrar os seus afazeres e o estudo dos filhos, em suma, assumir, também, esta educação escolarizada, trazida para dentro da residência. Aos estudantes, a matéria principal tem sido aprender a organizar o espaço-tempo de estudo dentro do próprio lar, aos que tem, usar o celular ou o computador pedagogicamente, como assim?

Longe de homogeneizar as experiências, cabe a nós, cidadãos, e aos nossos representantes eleitos olhar para imagem que o espelho da pandemia escancara: as crateras sociais. Todos possuem acesso livre à internet? Celular? Todas as escolas e professores (principalmente da rede pública) estão conseguindo dinamizar a proposta de educação a distância? E os pais? Todos os estudantes e trabalhadores têm o espaço e ferramentas para estudo e trabalho?

Onde e quando estão sendo ouvidos? Onde os relatos sobre este período, essas vozes, na hora das reuniões (virtuais) para decidir os próximos passos e rumos sobre calendários, conteúdos, atividades?
A sociedade se vê obrigada a um repensar e agir solidários. Olhamos para este espelho repleto de rachaduras, fitamos a beleza das ações solidárias refletidas, mas, pós-pandemia, que cenário teremos? O que farão com professores, escolas, em luta constante por melhorias? Continuarão as ações sociais sobre toda população vulnerabilizada? Respostas positivas só teremos refletindo e firmando compromissos nesse processo. Apenas se desenvolvermos o olhar empático, não apenas sobre as pessoas, mas sobre o planeta, que nos leve às mudanças necessárias no estilo de vida, nos leve às atitudes de cobrança sobre gestões públicas, pois o que se consegue fazer em emergência, também pode gerar continuidade.

Educação transforma pessoas, pessoas transformam o mundo, já nos dizia o grande educador Paulo Freire. Possamos assim entender qual a real educação, em tempos de pandemia.

*Paloma Maulaz Paixão é carioca, mãe e professora