Não há nenhuma referência de que Maria Antonieta tenha de fato dito isso. A frase já é citada nas Confissões, de Rousseau e teria sido dita muito antes, por Maria Teresa, a princesa espanhola que casou-se com Luís XIV.
A História não nos permite afirmar sobre a verdadeira autoria da frase ligada à crise da Monarquia Absoluta da França. Os historiadores do futuro, todavia não terão dúvidas de que foi o presidente Jair Bolsonaro que pronunciou, ao ser perguntado sobre o assustador crescimento do números de mortos pela Covid-19, a nefasta resposta: E daí?
A grosseria é a síntese de um projeto que não se importa minimamente com os mais vulneráveis em uma crise sem precedentes. Ao insistir na falsa dicotomia entre o isolamento necessário para conter o avanço da doença e o funcionamento da economia, o governo deixa evidente que serve aos interesses de uma elite que, em grande parte, só é capaz de enxergar o próprio umbigo.
A ideia de que é compromisso do estado proteger o trabalhador vem de longe. O trabalhismo começou a elaborar as leis de proteção ao trabalho no Brasil, como o salário mínimo, o descanso semanal, a estabilidade no emprego e o direito a carteira assinada, nas décadas de 1930 e 1940. Durante o governo trabalhista do presidente João Goulart, foi instituída a Lei 4090, de 13 de julho de 1962, incorporando à CLT o 13° Salário.
Neste momento em que o estado precisa intervir fortemente para socorrer os mais necessitados, com políticas sólidas de garantia de renda para os mais vulneráveis, o que temos é a irresponsabilidade, o descaso com as vidas, a ausência de compromisso com a coletividade de um presidente destemperado, cercado de extremistas alucinados, que acumula ações contra a democracia.
Jair Bolsonaro não é uma princesa da França absolutista, mas o “e daí?” ficará na História como símbolo sinistro do descaso, da irresponsabilidade e da crueldade em tempos de dor.
A História não o absolverá.
*Chico D'Angelo é medico e deputado federal (PDT-RJ)