Vereador Alexandre Arraes - Kelly Duque/Agência O Dia
Vereador Alexandre ArraesKelly Duque/Agência O Dia
Por Alexandre Arraes*
A empresa que deveria ser a responsável pelo saneamento do Rio é justamente quem mais prejudica o carioca nas questões sanitárias. Não bastou cobrar tarifas de esgoto sem oferecer o serviço e deixar de tratar mais de 50% do que é produzido e, assim, assassinar rios, praias, lagoas e baías da cidade. Não bastou obrigar o carioca a pagar por água suja imprópria para consumo e oferecer riscos à saúde dos consumidores que tiveram que gastar suas economias comprando água mineral a preço de ouro. Agora, decidiu, descaradamente, aplicar um novo golpe em quem, sem alternativa, é obrigado a ser seu consumidor. Enfiou, sem constrangimento, a mão no bolso dos seus infelizes clientes e, bem ao estilo da empresa monopolista e incompetente que é, passou a cobrar seus maus serviços pela média do consumo anual, em vez de fazer a medição diretamente no hidrômetro de cada prédio.

Há muito tempo, órgãos de defesa do consumidor e cidadãos inconformados travam batalhas contra a estatal, em razão de injustificadas variações - sempre para mais - nas contas que são obrigados a pagar. Agora, aproveitando a comoção causada pela pandemia da Covid-19, a Cedae veio com a infausta novidade, que representará um peso adicional em quem já enfrenta sérios problemas com pagamentos. A esperteza afeta principalmente os prédios comerciais e os mistos. Neles, submetidos à quarentena há quase dois meses, o consumo caiu exponencialmente e, com ele, o faturamento da estatal. Que, malandramente, inventou a cobrança pela média. Ou seja, as contas incluíram os tempos de consumo pleno, uma vez que a Cedae suspendeu o envio dos funcionários encarregados da medição. Quer passar por socialmente responsável, finge ser protetora de seu pessoal, mas faz com os consumidores seu habitual papel de vilã.

O golpe começou no mês passado. O funcionário que vai a cada imóvel fazer a leitura do hidrômetro e emitir a conta, passou a fazer, em muitos casos, apenas a emissão da conta, sem a leitura. Às vezes, dizia ao porteiro ou ao administrador que era "uma orientação por causa da Covid-19”. Quando, por qualquer razão, se pede a segunda via da conta pelo site da Cedae, supondo que seria a cópia fiel da primeira via deixada pelo leiturista, descobre-se que a empresa, nessa segunda via, coloca o valor da média anual, uma vez que não ocorreu a medição do consumo real daquele mês. E, claro, num valor muito mais elevado.

O aumento das mortes e internações causado pela pandemia aumentou a urgência de universalização do saneamento, escancarando de vez a necessidade de higienização no combate ao novo coronavírus e a outros patógenos. Assim, soluções locais de saneamento em favelas da cidade, onde o acesso à água limpa é precário, se tornaram ainda mais importantes. Outra razão é que foi demonstrado que o novo coronavírus resiste em fezes de pacientes que deixaram de ter sintomas há 11 dias e, por isso, não é possível descartar o risco de esse mal tornar-se, também, uma doença de transmissão hídrica/fecal oral.

Aqui no Rio vivemos a tragédia silenciosa da falta de saneamento e há muito por fazer. Não dá mais para ignorar e simplesmente seguir adiante. Uma nova realidade vai se consolidar no momento pós-pandemia e nela não há lugar para empresas como a Cedae. Precisamos acabar com essas velhas práticas e precisa ser agora. Não dá mais para esperar. Porque o Rio tem pressa!

*Alexandre Arraes é médico e gestor público