Ao horror da pandemia soma-se a irresponsabilidade de quem tem o dever de promover adequadas políticas públicas. Inicialmente tentou-se negar a existência do vírus, sob o fundamento de que era um golpe chinês para comprar as empresas no ocidente, depois que seria um resfriadinho ou no máximo uma gripezinha e ao final, mesmo duvidando da existência do vírus, acreditando-se no milagroso efeito da cloroquina.
Em razão da facilidade de transmissão de pessoa para pessoa tornam-se necessários o distanciamento social, o isolamento social (quarentena) ou lockdown. O tratamento da covid-19 é de suporte. A diminuição da mortalidade dos infectados está relacionada à oferta de infraestrutura adequada, a presença de médicos e equipes de saúde preparados e protegidos, a existência de leitos de internação e de UTI, assim como a presença de equipamentos de ventilação mecânica de boa qualidade e em número suficiente.
Nenhuma vacina, antiviral ou outro tratamento específico está disponível. Quase 200 ensaios clínicos com tratamentos e vacinas estão atualmente registrados. “Nenhum ainda foi aprovado em ensaios clínicos com desenho cientificamente adequado, não podendo, portanto, serem recomendados com segurança”, disse o Conselho Federal de Medicina (CFM). Cada substância cujos benefícios sejam testados deve ser comparada aos possíveis riscos para cada paciente.
Mas o CFM divulgou o Parecer nº 04/2020 liberando o uso da cloroquina, “para não causar polêmica”. Após analisar a literatura científica, o CFM reafirmou que não há evidências de que a cloroquina tenha efeito confirmado na prevenção e tratamento da covid-19 e o que deve nortear o tratamento é a autonomia do médico, ou seja, tirou o corpo fora e jogou a bomba no colo dos médicos.
Medicina não é ciência. É técnica que utiliza conhecimentos científicos e que deve ser adequadamente empreendida. O exercício da atividade médica é atividade de meio e não de resultado. O médico não está obrigado e curar ou salvar o paciente. Mesmo não se atingindo o resultado pretendido com o tratamento não há responsabilidade médica, se atuou adequadamente. Um médico há de empregar os conhecimentos já produzidos e os melhores meios ao seu alcance, visando a obter um resultado desejado, mesmo que não o atinja. E já é muito.
Doentes e familiares, não raro, esperam que a medicina seja um sacerdócio e os médicos heróis. Mas, devemos tratar a medicina como uma profissão que cuida de pessoas humanas e dos médicos esperar que sejam apenas profissionais responsáveis. Também já é muito.
Ao editar norma, “para não criar polêmica”, O CFM colocou sobre os ombros dos médicos a escolha de ministrar ou não uma substância cujos efeitos não estão comprovados. A morte de um paciente a quem for ministrada poderá ser considerada imperícia e ao médico caberá comprovar que era um meio cientificamente adequado de tratamento. A morte de quem não for ministrada poderá ser considerada negligência.
O Conselho Federal de Medicina, com sua decisão politizada, prestou um desserviço à classe médica, em momento no qual ela precisa de apoio para o desempenho adequado de suas funções.