Marcos Espínola - Divulgação
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Por Marcos Espínola*
Há pouco mais de dois meses, atônitos, entrávamos em quarentena com a expectativa de que seriam 15 dias de isolamento social. Numa crise sem precedentes, pouco a pouco descobrimos que não é bem assim. A pandemia só cresce e, segundo especialistas da área sanitária e da saúde ainda não chegamos no ápice da contaminação. Particularmente, no Rio, são muitas comunidades com grande população e inevitável aglomeração. Pessoas que já sofrem com a falta de serviços básicos e da violência presente pela ausência do poder público. A iniciativa do governo de proibir operações das polícias civil e militar nas comunidades traz um alento para os moradores que lutam para sobreviver.

A iniciativa tem como maior preocupação evitar os conflitos que em muitos casos acabam em derramamento de sangue. Neste momento, cujo inimigo é invisível, ou seja, o coronavírus, a ideia é promover o diálogo entre as corporações e os líderes comunitários, evitando o que aconteceu recentemente com vítimas após troca de tiros. Em tempos de alto índice de mortes diárias, isso é tudo o que não precisamos.

Não é de hoje que se tenta essa estratégia junto à comunidade. A essência das extintas UPPs era essa proximidade no intuito de integrar moradores e polícia. E o momento é propício para isso, unindo forças contra um problema comum a todos, além de considerarmos o contexto delicado no qual muitos voluntários prestam serviços humanitários nas comunidades, atuando na doação de cestas básicas, produtos de higiene pessoal, entre outros.

Em verdade, o futuro é incerto e a situação só se agrava na medida em que boa parcela da população precisa ir à rua para trabalhar ou, até mesmo os mais necessitados, buscar ajuda e doações. Sabemos que a crise na saúde impacta na mesma proporção a economia.

Nas favelas do Rio não é diferente. Pelo contrário. Há um comércio intenso de pequenos empreendedores que fazem a economia local girar. Aliás, o Rio concentra 17% dos moradores de favelas do Brasil, com 2 milhões de pessoas que movimentam R$ 12,3 bilhões por ano, o que equivale a 19% da renda de todos os moradores de favelas do país. Os dados são do Instituto Data Favela e comprovam o alto potencial desse universo que, diante do confinamento é altamente impactado.

Qualquer iniciativa na direção de minimizar os efeitos desse cenário caótico é de extrema importância para que a vida seja posta em primeiro lugar.

*Marcos Espínola é advogado e especialista em Segurança Pública