Prefeito Marcelo Crivella  - reprodução
Prefeito Marcelo Crivella reprodução
Por Marcelo Crivella*
Rio - O Brasil perdeu um expoente dos mais altos da sua geração. Possuía uma inteligência fascinante que se irradiava como uma manhã ensolarada nas aulas que predicava, preparando sucessivas gerações de alunos nos princípios da Economia, no devotamento à Justiça e no amor à causa pública.

Mas a sua cátedra não foi exercida apenas em sala de aula. Em cada encontro, sempre ao lado de seu amigo de uma vida, Dark de Matos, seus princípios humanitários e seu amor ao Brasil iam se revelando em pensamentos tão claros, argumentos tão irrefutáveis, que arregimentavam inúmeros e crescentes seguidores. Sua liderança foi da inteligência e da simplicidade.

Seus conhecimentos científicos e as circunstâncias e os episódios históricos da nossa formação econômica, social e política, que ele dominava com grande percuciência, não lhe permitiam cometer os equívocos daqueles que analisam os fatos dominados pela rigidez dos seus dogmas cristalizados.

Coração sem ódio, sempre aberto ao diálogo e à conciliação da razão, sua natureza buscava a beleza da vida e a poesia obtida ao se observar as estratégias da nossa gente, sofrida e valente, na superação de seus obstáculos diários para sobreviver às dificuldade e praticar as virtudes, às vezes tendo tão pouco. Tinha profundo respeito pelo povo e tudo que pensava na sua generosa criatividade visava melhorar suas condições de vida.

Sempre lutou heróica e denodadamente pelo progresso e independência do Brasil. Denunciava as artimanhas do capital quando vislumbrava nelas o prejuízo das classes trabalhadoras. Assim se caracterizou sua última passagem pela vida pública, quando presidiu o BNDES e acabou com as polpudas comissões dadas aos grandes grupos financeiros na intermediação das operações de financiamento do banco, inclusive nos empréstimos da Petrobrás, que ficava e fica, logo ali, do outro lado da rua. Popularizou o acesso ao mercado de capitais, formando uma carteira de ações que representavam a pujança das empresas que iriam experimentar nos próximos anos grande crescimento econômico e que assim podia ser dividido com seus investidores de menor renda. Isso aconteceu!

Sua definição de PODER, imortalizada nas conferências proferidas no Itamaraty, como sendo a conjugação de ARMAS+DINHEIRO+IDÉIAS, e os exemplos com os quais sedimentava essas suas teses, cativavam audiências e repercutiam muito além dos auditórios.

Por onde passou deixou um rastro de honestidade intelectual, de bravura cívica, de conhecimento científico, que a todos iluminava. E assim viveu, cercado da admiração e gratidão de alunos e amigos, que celebravam sempre sua bem-humorada e instrutiva convivência.

A ele, Professor Carlos Lessa, a nossa sincera homenagem por sua trajetória imaculada como cidadão e pai de família. Com certeza, ele atravessa, com a consciência tranquila e o coração intimorato, os portões da eternidade para subir os degraus do Panteon dos Heróis da Pátria, que é o lugar daqueles que, em vida, nos legaram a lição imortal de viver e morrer pelo Brasil.
*Prefeito do Rio de Janeiro