Jamille Cavalcante Dias - Divulgação
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Por Jamille Cavalcante Dias*
O mundo foi surpreendido pelo novo coronavírus. Isso é fato. O aumento no número de casos e a disseminação global fizeram dele uma pandemia em 11 de março. Por ser tão novo e ter pegado a todos desprevenidos, é natural o equívoco de instituição importantes como a Organização das Nações Unidas (ONU) e a confusão em algumas informações.

Uma das afirmações da ONU caiu no gosto popular. "Teremos um novo normal". Em artigo, Guy Ryder, diretor-geral da Organização Internacional do Trabalho (OIT), um dos braços da ONU, afirma que "agora é a hora de olhar mais de perto esse novo normal e começar a tarefa de torná-lo um normal melhor, não tanto para aqueles que já têm muito, mas para aqueles que obviamente têm muito pouco".

Esse “novo normal” parece um legado da pandemia do Covid-19 e eu acredito que talvez não seja. Ou melhor, que talvez sequer exista. Ao voltar às atividades rotineiras, sobretudo no Brasil, iremos ver cenas como a fotografada pelo professor de história Yan Marcelo se repetirem igualmente.

A ONU diz que a crise de saúde provocada pela Covid-19 causou uma recessão com níveis históricos de privação e desemprego, criando uma crise sem precedentes que atinge principalmente os mais pobres. Recessão, desemprego recorde... E mesmo assim, será que o mundo nunca mais será o mesmo?

O iFood ganhou novos clientes, o delivery também. A startup Zoom vale mais que a Petrobras. E Cristina Junqueira, cofundadora do Nubank, acredita que as empresas serão mais digitais. E que as relações de trabalho mudarão. Acrescento aí uma palavra: "algumas" relações de trabalho. Fora isso, é pouco provável essa esperada grande mudança na sociedade.

Não seria o momento oportuno para nós vivenciarmos um novo modo de olhar para o outro? Agir com mais empatia e solidariedade, visto que a vida humana ficou tão mais subjetiva? Mas, não. Foi justamente agora que a brutalidade humana chegou ao seu ápice. Será que não veremos mais acontecimentos como o de George Floyd? E quanto aos outros? João Pedro, Miguel?

A descoberta de uma vacina fará o uso das máscaras deixar de ser obrigatório. Certamente, a maioria dos brasileiros vai esquecê-las numa gaveta. Tudo voltaria ao "velho normal". Poderíamos, então, dizer que isso só aconteceria, obviamente (ironia mode on), no Brasil. No entanto, em Barcelona, o fotógrafo Emilio Morenatti mostra que fazemos parte de um mesmo grupo de pessoas: os seres humanos.

Não precisamos ir tão longe e nem mesmo que uma foto viralize. Basta irmos até à esquina para observar que, na prática, as pessoas só querem retomar suas vidas exatamente como sempre foram. Basicamente, adaptamos somente as tecnologias, as comunicações, os mecanismos digitais e, intensificamos, para o bem ou para o mal, a vida online.

O comportamento humano continua o mesmo. É incontestável. As videoconferências provaram que vieram para ficar, já os abraços calorosos, por enquanto, serão bem comedidos e até evitados. Mas, isso sim e, ainda bem, retornarão com o tempo. O novo normal é o anormal que domina algumas tecnologias e não passará por uma metamorfose. A mudança será um mergulho no raso. Como escreveu Belchior, em verso lindamente cantado por Elis Regina: "ainda somos os mesmos".
*Jamille Cavalcante Dias é diretora de Vendas e de Marketing da Riviera Construtora