Serrano Freire
Serrano FreireDivulgação
Por Serrano Freire*
No pós-pandemia, em uma mesma turma, algumas crianças terão tido condições e apoio familiar para avançar nos estudos mesmo em casa, enquanto outras mal têm uma mesa para estudar e isto é muito preocupante. Distorções que já existiam, particularmente nas redes públicas, ficarão mais evidentes no retorno às aulas presenciais. A rede pública já tão debilitada pelos desmandos de sucessivos governos, mais uma vez, sofrerá sérias consequências. E não vejo nenhum caminho que não seja o que estou chamando de “freio de arrumação” (parada para organizar a nova partida). Cumprir em 2020 o calendário de atividades, grades e plenos conteúdos, mesmo que se pense em novo grande esforço (colocar as crianças que já estavam presas em casa, presas agora em horário integral), não resolverá, penso eu.

Será necessário entender que haverá um prejuízo e não só nas escolas públicas, e o que temos que fazer é minimizá-lo. O freio seria, durante pelo menos um mês, trabalhar os pontos principais do semestre, repetidas vezes, se necessário, permitindo-se jogar para 2021 – que também será um ano de desafio educacional, econômico e social.

Sou favorável ao enxugamento do programa do 1º semestre e, quem sabe, aula de reforço em um turno, aos sábados. É muito tempo de paralisação e precisa ser visto de forma que as crianças não se sintam privadas da liberdade, do prazer e da vida.

O tempo de pós-pandemia será um mundo novo, desafios novos, incertezas e a natural ansiedade de se fazer de uma vez tudo que não se pôde fazer a seu tempo. Será mais um grande aprendizado para o ser humano e frustrações e medos fazem parte desse crescimento.

Docentes, pais, alunos, somos todos iguais na humanidade, no anseio pela vida, no medo das perdas e dores. Sofremos todos nós as consequências danosas da pandemia. Precisaremos nos erguer e aprender juntos.

Alunos, professores e coordenadores deverão juntos com as classes diretamente interessadas estabelecer novas estratégias, por objetivos e região. Possivelmente o caminho não será o mesmo para todos, mas a vontade de superar sim.

Professores que estão sendo fantásticos na sensibilidade, na dedicação, na adaptação a novas ferramentas de ensino, professores que se reinventaram e que sofreram perdas desastrosas, estão tendo grande amadurecimento e o acolhimento emocional que a escola ofereça a todos. Não há nada perdido se a vida está salva, mas vamos precisar escutar mais e estar mais disponíveis para nossos atores. Precisaremos falar mais com a voz do coração, ter o tom da afetividade e o amor como veículo dos nossos sentimentos para que professores e alunos alcancem plenamente seus resultados. O afeto, a sensibilidade de entender a dor alheia, ou seja, a empatia serão absolutamente necessárias nesta fase e será muito bom se introduzirmos estas práticas em nossas vidas.
*Serrano Freire é professor e autor do “Seja o professor que você gostaria de ter”