Economista Raul Velloso
Economista Raul VellosoDivulgação/Inae
Por Raul Velloso*
Estudos sofisticados demonstram que só investindo suficientemente na quantidade e/ou na qualidade da infraestrutura dos países o PIB per capita crescerá a contento. De forma análoga, quanto mais se faz isso menos desigual se torna a distribuição de renda.

As oportunidades para atuar na infraestrutura são amplas, mas, por aqui, puxado pela vertente pública, esse tipo de investimento entrou em queda livre até 1990 e, de novo, mais recentemente, afetando negativamente a evolução do PIB em cada momento que se seguia. Lá atrás, o PIB crescia, em média, a 7% ao ano. De 1990 até 2019, nossa média de crescimento caiu para apenas 2%.

Em adição, ultimamente o Brasil vem investindo, sistematicamente, menos de 3% do PIB no setor, o que, segundo regra de bolso em vigor, é insuficiente para manter intacto o estoque de infraestrutura per capita. Esse baixo investimento contribuiu para derrubar ainda mais as possibilidades de crescimento do PIB. Estima-se, assim, que, do início dos anos 1980 até a pouco, o estoque de infraestrutura em nosso país tenha caído de 58% para 36% do PIB. Para a atividade econômica ter crescido algo sob essas condições, deve ter ocorrido ao mesmo tempo um verdadeiro milagre. (Foi provavelmente esgarçando os limites do uso desses equipamentos ao extremo que se conseguiu isso...).

Outra informação preocupante é a de que a parcela privada do investimento em infraestrutura vem oscilando em torno de apenas 1% do PIB há bastante tempo, ou seja, ainda não conseguiu decolar, mesmo diante da desabada do espaço para investir no setor público de que se ouve falar todos os dias.

Isso mostra que temos de atuar nas duas pontas: aumentar o espaço para investir nos entes públicos, assunto que, por sua dimensão e complexidade, cabe tratar à parte, e criar as condições para as inversões privadas acontecerem com maior força, especialmente como parte do esforço de recuperação econômica pós-pandemia.

Na sessão de ontem do Fórum Nacional (veja em https://youtu.be/RXrjGdA99kM), que presido, tratamos especificamente do desempenho dos investimentos privados em infraestrutura, onde se viu que não há problema de oferta: existem empresas interessadas em prover a infraestrutura e o mercado de capitais se mostra receptivo para financiar os empreendimentos. Impera, contudo e claramente, um forte viés antiprivado, que se manifesta de várias formas fora do âmbito do segmento privado em si.

Recomendo aos leitores que acessem o link acima indicado para aproveitar as apresentações dos participantes e os respectivos debates. De minha parte, enfatizei algo que decididamente precisa mudar: a baixa prioridade que o país - e particularmente seus dirigentes políticos do momento - conferem ao investimento em si, inclusive como melhor caminho para retirar o país do marasmo pós-pandemia que cada dia se intensifica mais. Falo, especificamente, do investimento em infraestrutura, público e privado, cuja importância as forças políticas precisam incorporar em suas ações.
*É consultor econômico