Tarcísio Motta (Psol) em visita à redação de O DIA - Marcio Mercante / Agencia O Dia
Tarcísio Motta (Psol) em visita à redação de O DIAMarcio Mercante / Agencia O Dia
Por Tarcísio Motta*
A pandemia trouxe desafios ainda maiores para a educação. As aulas foram interrompidas praticamente em todo o mundo como forma de prevenção ao contágio acelerado do novo coronavírus. Por isso é preciso discutir a volta às aulas com muito cuidado, planejamento e transparência. E isto é tudo o que está faltando na prefeitura do Rio de Janeiro.

A Prefeitura chegou a anunciar uma primeira data para o retorno das aulas em julho. No momento do anúncio os dados da epidemia ainda estavam em curva ascendente, o que não justificava tal previsão. Agora, autorizou a reabertura das escolas particulares para o início de agosto. E aponta a mesma data para o retorno das direções das escolas municipais. Segundo dados de monitoramento da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), o índice de contágio está em 1,29, o que significa um elevado grau de circulação do vírus. Este elemento científico e da realidade demonstra que não é seguro o retorno às aulas presenciais em nenhuma das escolas da cidade.

A rede municipal precisa ter uma outra estrutura, com condições sanitárias adequadas. É necessário ter álcool em gel, equipamentos de proteção individual, distanciamento entre os estudantes, além do básico, como água e banheiros funcionando - que infelizmente faltam na maioria das unidades. Só pra se ter uma ideia, um estudo do Tribunal de Contas do Município já indicou que mais de 70% das escolas estão em condições precárias.

Por outro lado, os profissionais da educação que são de grupo de risco não poderão retornar às atividades presenciais, e as equipes de limpeza terão que ser maiores do que hoje. É fundamental ter o controle da temperatura e de possíveis sintomas de alunos, professores e funcionários. Nada disso está disponível até agora.

Ainda há muito o que se planejar. É preciso saber o que deve ser feito e de onde virá o dinheiro. Há casos em países que - mesmo com o contágio e o número de óbitos controlados e seguindo as recomendações da Organização Mundial de Saúde (OMS) - apresentaram novos casos em escolas e tiveram que fechá-las novamente. É imprescindível criar uma estrutura de controle e monitoramento para impedir uma disseminação de novos casos.

Numa cidade que tem a maior rede pública de ensino da América Latina, a Secretaria Municipal de Educação, em três meses de pandemia, não conseguiu produzir diagnósticos sobre o que será necessário para o retorno seguro das aulas. Por isso é nosso dever seguir cobrando que a prefeitura faça um planejamento com transparência, participação e cuidado. É inaceitável que fiquem apenas marcando data de retorno, trazendo somente ansiedade para os profissionais da educação, para os estudantes e suas famílias. Escolas não podem ser transformadas em vetores de morte e de aceleração do contágio do novo coronavírus. Educação é um direito de todos e a vida é um bem maior que precisa ser preservada.

*Tarcísio Motta é vereador do Rio de Janeiro pelo PSOL e professor licenciado do Colégio Pedro II