Delmo Manoel Pinho - Divulgação
Delmo Manoel PinhoDivulgação
Por Delmo Pinho*
A pandemia do coronavírus atingiu drasticamente o cotidiano das pessoas e as aglomerações urbanas, ambiente típico das grandes cidades. Como consequência direta, nocauteou a mobilidade urbana e colocou em risco a continuidade do transporte público coletivo. Nos tempos da covid-19, esta atividade, que é imprescindível ao dia a dia das pessoas, está chegando ao limite de sua viabilidade, em decorrência de diversos fatores: baixa demanda de passageiros, custos crescentes decorrentes da imobilização econômica e necessárias ações de sanitização e de distanciamento nos transportes.

Diante desse cenário, especialmente nas principais áreas metropolitanas, que mantêm sistemas de transportes mais complexos, as operações de trens, metrôs, ônibus, barcas e vans têm apresentado crescentes e avassaladores déficits financeiros, colocando em risco a continuidade dos serviços. Trata-se, sem dúvida, da maior crise no transporte público no mundo, pelo menos nos últimos 50 anos.

Um cenário tão adverso tem motivado ações de cooperação intergovernamental em diversos países. No Reino Unido, o governo central aprovou um pacote de apoio financeiro ao sistema de transportes da ordem de £1,6 bilhão, entre aportes e financiamentos; nos Estados Unidos, o Congresso anunciou um acordo bipartidário aprovando a Lei de Ajuda, que inclui US$ 25 bilhões para operações de transporte público; na Espanha, foi aprovada, em junho, a alocação de €800 milhões para garantir a continuidade da prestação dos serviços.

No Brasil, a saída para o setor pode ser o Projeto de Lei a ser apresentado e votado, na próxima semana, na Câmara dos Deputados, que pretende destinar recursos públicos à mobilidade urbana nacional. Embora a responsabilidade de prover esses serviços nas cidades e Regiões Metropolitanas seja dos municípios e estados, dado o tamanho da crise, é imprescindível contar com essa estreita colaboração da União.

Neste momento, com a queda vertiginosa da demanda de passageiros e a fragilidade da economia em geral, é alto e iminente o risco de um colapso nos transportes públicos, o que seria agravado pela quebra em série das empresas operadoras, comprometendo ou até mesmo inviabilizando os deslocamentos e a rotina diária do cidadão e a velocidade de retomada da economia nacional.

Admitindo-se que o período crítico da pandemia no país ocorra até o fim do ano, com a gradual retomada das atividades econômicas e das rotinas dos cidadãos, é fundamental que se preservem as redes de transporte. Esse socorro do Governo Federal pode oferecer, ainda, uma oportunidade única de refundar o transporte público coletivo no país. Essa crise sem precedentes oferece a maior oportunidade e disposição para mudanças e novas diretrizes para o setor.

*Delmo Pinho é secretário de Estado de Transportes do Rio de Janeiro