Libras, Cultura e Inclusão - Tiago Ribeiro
Libras, Cultura e Inclusão - Tiago RibeiroDivulgação
Por Tiago Ribeiro*
O atual contexto de pandemia de Covid-19 que assola o Brasil tem levantado debates em torno do (não) retorno à escola presencial este ano e a possibilidade de EAD, em seu lugar. De repente, esta opção surgiu triunfal como resolução a muitos problemas, sobretudo por governos que desconhecem flagrantemente a realidade de seu povo: Que EAD quando parcelas significativas de estudantes não têm dispositivo para acessar a internet em casa, e tantos outros não têm acesso à internet? Quando muitos estudantes moram em residências a cujo endereço não chegam correspondências?
No contexto da Educação de Surdos, o debate ainda fortalece outro, sobre o qual a Comunidade Surda já vem insistindo desde os anos de 1990: o desafio linguístico e a ausência de uma política nacional de fomento e difusão da Libras. Em termos práticos, isso tem significado escolas com estudantes surdos incluídos onde a língua de sinais não circula, senão entre aluno e intérprete, muitas vezes por menos tempo do que a própria aula. Tem significado, também, que a grande maioria dos surdos brasileiros vivam em lares onde se desconhece a Libras... Ou, ainda, escolas bilíngues com professores que não se comunicam em Libras.
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Nota-se: a realidade da Educação Bilíngue de Surdos presencial tem sido de luta. Faltam materiais didáticos bilíngues pensados para o surdo, falta formação continuada em Libras para os professores, falta apoio às escolas... Falta, falta, falta. Em meio à falta, uma pandemia. Em meio à pandemia, talvez a possibilidade de voltar a perguntar: e a Libras? As escolas têm profissionais e estrutura para oferecer educação à distância? E educação bilíngue à distância? Tais questões revelam como a desigualdade impõe a urgente necessidade de compreender a Educação como bem social a que todos e qualquer um devem ter assegurado o acesso, em suas diferenças e singularidades!
Apesar da impossibilidade, no contexto brasileiro, da imposição da EAD como resposta educativa e pedagógica efetiva para todos os estudantes, algumas redes e instituições educativas no Brasil, como a Rede Municipal de Educação de Rio Grande, RS, a escola Municipal Gurgel do Amaral, no Rio de Janeiro, e o Instituto Nacional de Educação de Surdos, também no Rio, têm felizmente compreendido este período como um momento educativo de cuidado e atenção, não de tensão. Isso significa manter a escola presente através da informação, da ludicidade, da cultura, da ampliação de repertórios tanto quanto possível... ainda que saibamos, se é conversação e comunidade, a educação requer presença, encontro, partilha.
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*Tiago Ribeiro é autor do livro “Leitura e escrita na educação de surdos”