Luciana El-Kadre
Luciana El-KadreDivulgação
Por Luciana El-Kadre*
O isolamento social, apesar de ser uma das medidas protetivas mais eficazes até o momento durante a pandemia, vendo causando consequências importantes à saúde e ao bem-estar, já que proporciona menor exposição à luz do dia e alteração de horário das refeições e do sono. Essas interrupções ao chamado ritmo circadiano podem determinar graves consequências cardiometabólicas para a saúde de indivíduos suscetíveis.
Atualmente, quase 20% da população brasileira adulta é considerada obesa e mais de 55% está acima do peso, segundo dados recentes do Ministério da Saúde. Esse cenário oferece grande risco à saúde, principalmente em relação às doenças associadas, como o diabetes tipo 2, a gordura no fígado, a hipertensão e as doenças cardiovasculares. Com o isolamento social dos últimos meses, quem lutava, com dificuldade, contra o sobrepeso ou a obesidade viu sua rotina ser abruptamente modificada.
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Caminhamos para a saída da quarentena com maior peso e pior saúde metabólica. Para os pacientes que estavam em pré-operatório de cirurgias bariátrica e metabólica, isso pode ser especialmente importante. O isolamento social foi desafiador para quem tem obesidade e interrompeu a mudança de rotina com menor ingestão calórica e maior gasto enérgico, experimentou o aumento da ansiedade, a piora ou o retorno da compulsão alimentar e, em muitos casos, o incremento do consumo de álcool.
Da mesma forma, pacientes com mais idade, enquadrados especialmente como “grupo de risco”, perderam, em quatro meses, massa muscular, mobilidade e, principalmente, esperança de que podem, novamente, modificar sua composição corporal. Crianças e adolescentes ganharam peso, alteraram o sono e, muitas vezes, desenvolveram comportamentos alimentares que podem se tornar crônicos.
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Níveis baixos de atividade física e comportamento sedentário estão associados à dislipidemia, disfunção microvascular e resistência à insulina, fatores que levam ao ganho de peso. Infelizmente, esses efeitos desfavoráveis ocorrem rapidamente. Homens jovens e saudáveis, quando diminuem seus níveis de atividades diárias de 10.501 para 1.344 passos/dia, em apenas duas semanas, apresentam declínio de 17% na sensibilidade à insulina no músculo esquelético, perda de 7% de condicionamento cardiovascular e redução de 3% na massa magra das pernas.
Doenças como obesidade e diabetes são crônicas, se o tratamento é interrompido, podem voltar. Dessa forma, atendendo às novas normas como o uso de máscaras e o distanciamento social, a orientação é que os pacientes voltem às consultas com toda a equipe envolvida na jornada por maior qualidade de vida e diminuição de fatores de risco, como sono inadequado, lanches após o jantar, falta de restrição alimentar, alimentação em resposta ao estresse e atividade física reduzida.
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Essa mudança no estilo de vida, mais uma vez, será desafiadora e o paciente precisará da ajuda de especialistas.
*Luciana El-Kadre é coordenadora do Centro Metabólico de Diabetes e Obesidade do Hospital São Lucas Copacabana, diretora científica do Colégio Brasileiro de Cirurgia Digestiva no Rio de Janeiro, além de mestra e doutora em Cirurgia pela Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG)