João Batista Damasceno, colunista do DIA - Divulgação
João Batista Damasceno, colunista do DIADivulgação
Por João Batista Damasceno*
O imbróglio envolvendo as instituições brasileiras decorrente da elaboração de dossiês que trata brasileiros como inimigos a serem rotulados e perseguidos somente é compreensível se entendermos o papel das
instituições e dos agentes que compõem o grupo social que sobreviveu nos escombros, não removidos, do regime empresarial-militar que enlutou o Brasil de 1964 a 1985.

No presente momento, a hegemonia sobre as instituições democráticas, decorrente do processo eleitoral viciado pelas fake News e atuação marginal de membros do Poder Judiciário, Ministério Público, polícias e
Forças Armadas, reúne pelo menos três grupos específicos: um grupo com a racionalidade do mundo capital e que tem buscado reformas supressoras dos direitos do mundo do trabalho, bem como entregar as riquezas
nacionais; um outro grupo formado por aqueles que se opuseram à abertura política e colocaram bombas pelo país até que uma delas explodiu no colo de um terrorista fardado e matou seu companheiro no Riocentro. O Exército protegeu o terrorista, que era capitão, e o promoveu até se reformar no posto de coronel; um terceiro grupo é de aloprados capazes de ver Jesus na goiabeira, discursar sobre a terra plana ou duvidar da existência do coronavírus, mas capaz de fazer tratamento com cloroquina ou ivermectina. Este grupo, aceita até tratamento com ozônio, mesmo negando a existência do vírus que chama de fake News chinesa.

O grupo da linha dura, descendente daqueles que decretaram o AI-5 é preocupante, porque não atua sob os holofotes da democracia. Os generais Geisel e Golbery em suas obras disseram que a abertura política era
necessária para evitar que o país chegasse a uma guerra civil entre grupos clandestinos. Mas temendo a supremacia dos comunistas e dos nacionalistas que pudessem pretender transformações sociais, cuidaram de eliminar aqueles que seriam considerados inimigos do regime, antes que se fizesse a abertura política. Assim se montou a Operação Radar para eliminá-los. Tentou-se limitar o mundo do trabalho a pretender emprego, renda e possibilidade de consumo.

A linha dura do regime empresarial-militar teve que se esconder depois do Caso Riocentro. Mas, não se desarticulou. Ao contrário, passou a tramar dos escombros e da penumbra. Tendo perdido a batalha nas ruas, nas urnas e no meio acadêmico – por incapacidade de oferecer qualquer proposta à sociedade - sua pretensão no presente momento é destruir o que não tem condições de vencer. Daí os ataques à cultura, à educação, ao ideário de justiça, ao Estado de Direito e tudo o mais que expresse civilidade.

A Constituição diz que o Brasil se constitui num Estado Democrático e de Direito e que o STF é dela o guardião. E por isso o ataque também ao STF. A República do Brasil tem por um dos seus fundamentos o pluralismo político. A Constituição é antifascista. 

Os dossiês elaborados por um deputado paulista e por um membro do Ministério Público no Estado do Rio Grande do Norte é expressão daqueles que atuam dentro das instituições democráticas contra a democracia. As atuações contra os Policiais Antifascistas precisam ser repudiadas. Trata-se de mapeamento por aqueles que pretendem eliminar o pensamento democrático para realizarem os objetivos que não conseguiram alcançar nos Anos de Chumbo. A serviço dos interesses imperialistas um deputado entreguista forneceu o dossiê, com dados pessoais de brasileiros, ao governo dos Estados Unidos. Não são nacionalistas. Não defendem a nação e os interesses do povo brasileiro. São patrioteiros, capazes de chorar diante
de qualquer pedaço de pano colorido, mas atentam contra a soberania nacional. Miguel de Unamuno, reitor da Universidade de Salamanca, quando acossado pelos fascistas exclamou: “Vocês vencerão! Porque têm a
força. Mas, não convencerão, porque lhes falta razão!”. Unamuno tinha razão. A força pode se impor esporodicamente, mas não tem condições de se estabelecer em definitivo, porque a humanidade caminha é para a frente; para a civilidade.
*João Batista Damasceno é professor da Uerj e doutor em Ciência Política