Aristóteles Drummond, colunista do DIA - Divulgação
Aristóteles Drummond, colunista do DIADivulgação
Por Aristóteles Drummond*
Há certos assuntos que devem ser abordados, embora todos fiquem cheios de dedos quanto a emoções e reações que os envolvem. E devem ser abordados justamente pelo fato de que tudo que é tratado com paixão, e ódio, acaba encobrindo injustiças e, de certa maneira, violências.

Não se trata de minimizar os erros cometidos, e confessos, do ex-governador do Rio Sérgio Cabral, em prisão preventiva, com muitas condenações em primeira instância. Fez acordo de delação premiada e o próprio réu já admitiu que pode ter sido dominado por algum tipo de doença de fundo psicológico, para ter acumulado riqueza que racionalmente nem poderia usufruir, esconder ou ficar impune. Claro que não fosse este distúrbio, responsável parcial pelos malfeitos, não teria passado dos limites, por ser homem inteligente, experiente e pragmático.

Está preso há mais de três anos, apesar de não oferecer perigo algum ao andamento dos processos, se passar a prisão domiciliar. Teria mais condições do que muitos que já estão com o benefício ou até mesmo em liberdade, com mais de uma condenação em segunda instância. Como não foi político ideológico, não tem quem patrocine sua causa politicamente. Mas os frutos das operações contra a corrupção, que não se limitam à Lava-Jato, devem ser logo regulamentados via estatuto a ser aprovado pelo Congresso Nacional.
Não é justo o que se passa no país, em que cada caso é tratado de uma maneira, quando os crimes são semelhantes.

No mesmo patamar de danos causados ao Erário, são muitos os que estão livres ou na confortável prisão domiciliar. Logo, um exame do caso do ex-governador do Rio seria, no mínimo, a busca de uma decisão que não ficasse em odiosa discriminação, como claramente ocorre.

Cabe lembrar que, diferentemente dos demais casos, o ex-governador tem a seu favor duas boas gestões em termos de obras e programas de governo, tendo sido reeleito e feito seu sucessor. No mais, salvo um ou outro momento de fraqueza ao incriminar auxiliares que sabe serem inocentes, não se tem notícias de ter sido desprovido das qualidades humanas da cordialidade, nunca discriminou ninguém, tem um legado de
parlamentar com lastro em projetos sociais, especialmente os dedicados à terceira idade, em cuja defesa dos interesses foi um pioneiro há mais de 30 anos. Todo crime tem atenuantes. Chega de hipocrisia!!

Deve indenizar ao Estado, o que interessa mais do que o sadismo de o ver na cadeia, sofrer restrições naturais na liberdade e nos direitos políticos, mas pode, sim, se a Justiça examinar o seu caso, sair do regime fechado, no qual, pelo clima passional que se criou em torno de seu caso, foi esquecido.

São ponderações impostas pela consciência, pelo sentimento cristão da caridade, pela independência que uma longa vida pública, no jornalismo especialmente, na luta pela democracia liberal e pela correção. Afinal, tão nefasta quanto à corrupção é a Justiça inspirada no preconceito, na desigualdade, no medo, no irracional e, no oportunismo menor.
*Aristóteles Drummond é jornalista