Marcos Ribeiro - Divulgação
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Por Marcos Ribeiro*
O filósofo Rousseau (1712-1778) no século XVIII tinha a ideia de que a ignorância e a informação dirigida e repressiva era o “pior dos males”, preservando assim a criança dos “perigos” da sexualidade. Três séculos depois, este é um assunto que não está totalmente resolvido, pois parece que a conversa sobre sexualidade ainda causa um desconforto, como se estivéssemos falando sobre algo pecaminoso e, por isso, impróprio.

Falar de sexualidade com as crianças é mesmo necessário, por quê? Poderia aqui listar uma série de fatores, mas rapidamente podemos dizer que conhecer o próprio corpo e ter acesso à informação é um direito de todas as pessoas. Inocência não protege, muito pelo contrário, coloca a criança mais vulnerável a situações absurdas e criminosas, como acompanhamos nos últimos dias o caso de uma menina de 10 anos, violentada por quatro anos pelo tio. Uma notícia que revolta a todos nós.

Mas será que se essa criança tivesse informação o resultado desta violência seria o mesmo? Certamente não! E de nenhuma outra menina e menino que são abusados sexualmente no nosso país.

Conversar com a criança é uma forma de protegê-la a uma situação de risco como um abuso ou exploração sexual e, mais tarde, de uma gravidez não planejada na adolescência, de uma Infecção Sexualmente Transmissível ISTs) ou uma situação de violência onde a mulher é a vítima preferencial.

É importante explicar a criança a diferença entre o carinho permitido e do abusivo; que no corpo dela ninguém pode tocar e que nenhuma criança mais velha, adolescente ou adulto pode manter segredos sem o conhecimento dos pais (dos dois, pai e mãe) ou responsáveis.

Estamos falando de uma Educação em Sexualidade pedagogicamente planejada, com os temas e recursos adequados a cada série / idade escolar. É um erro pensar que queremos substituir a família, muito pelo contrário, o trabalho a ser realizado pela escola vem somar, em parceria: informando, desenvolvendo a criticidade e o respeito às diferenças. É um trabalho pautado nos Direitos Humanos e na construção da cidadania.

Este trabalho ajuda às crianças e adolescentes na autonomia para se protegerem ou pedirem ajuda quando for necessário, a cuidarem da própria saúde, a desenvolverem relações respeitosas com as outras pessoas e a conhecerem os próprios direitos, garantindo-os.
*Marcos Ribeiro é autor do livro “Educação em Sexualidade”