
Mas a farra durou pouco. No dia 09 de abril um grupo de militares autointitulados Comando Supremo da Revolução editou um ato institucional mostrando quem tinha as armas e a quem os golpistas deveriam obedecer. A presidência de Ranieri Mazzilli foi para o brejo. Consumado o golpe empresarial-militar uma noite caiu sobre o país e as instituições. Políticos e militares nacionalistas, juízes, promotores de justiça, advogados, líderes sindicais e professores foram cassados sumariamente. Aqueles que não se dispunham a colaborar com o regime foram perseguidos. No dia 11 de abril o Congresso Nacional, num gesto de boa vontade com os donos das armas, elegeu o Marechal Castelo Branco para a presidência da República.
O Marechal Castelo Branco era do Grupo da Sorbonne e dos tenentistas, militares que gostavam de livros e cultura. Costa e Silva era o líder da ‘linha dura’ e enfrentava o próprio presidente. Editoriais de jornais conservadores instigavam o judiciário a participar das perseguições a pretexto de combater a corrupção. E muitos magistrados, ao arrepio da ordem jurídica, ouviram e seguiram o Canto das Sereias, tornando-se colaboracionistas do regime.
Em Goiás, o general Riograndino Kruel iniciou perseguição ao Governador Mauro Borges. Sobral Pinto impetrou habeas corpus preventivo em favor do Governador ameaçado de impeachment e prisão. As apurações haviam sido feitas em inquérito policial militar. Dr. Sobral alegou que provas haviam sido forjadas e que o governador deveria ser processado e julgado somente após pronunciamento da Assembleia Legislativa, uma vez que tinha direito a foro especial e assim dispunha a Constituição.
O STF deferiu a liminar. Mas, o general descumpriu a ordem. O presidente do STF, Ministro Ribeiro da Costa, alertou que se as ordens do STF não fossem cumpridas ele entregaria as chaves à sentinela de plantão. O Marechal Castelo Branco determinou cumprimento. A linha dura e os editoriais dos jornais não perdoaram o STF por garantir o primado da Constituição. O ministro Victor Nunes Leal propôs que o regimento interno do STF fosse alterado para manter Ribeiro da Costa na sua presidência até a aposentadoria compulsória que se avizinhava. Para contentar a linha dura o Marechal Castelo Branco decretou intervenção em Goiás e afastou o governador. Mas, o judiciário cumprira o seu papel. Quando a linha dura deu um golpe interno nos tenentistas e decretou o AI-5 os ministros que apoiaram Ribeiro da Costa foram cassados.
Ulisses Guimarães quando da promulgação da Constituição em 1988 declarou: “A Constituição certamente não é perfeita. Ela própria o confessa ao admitir a reforma. Quanto a ela, discordar, sim. Divergir, sim. Descumprir, jamais. Afrontá-la, nunca. Traidor da Constituição é traidor da Pátria. Conhecemos o caminho maldito. Rasgar a Constituição, trancar as portas do Parlamento, garrotear a liberdade, mandar os patriotas para a cadeia, o exílio e o cemitério”. Defender o primado da Constituição, sem colaboracionismo com governos, é defender as liberdades públicas, diante das ameaças da cadela do fascismo que sempre está no cio.