Melissa Cavagnoli
Melissa CavagnoliDivulgação
Por Melissa Cavagnoli*
O avanço nos tratamentos de câncer na última década têm aumentado as chances das pessoas sobreviverem, especialmente se forem jovens. A chance de sobrevivência em 5 anos de pacientes com alguns tipos de câncer hematológicos como alguns casos de leucemias ou linfomas por exemplo, e alguns tipos de câncer de mama, pode superar os 90%.

O grande problema é que muitas dessas mulheres ainda não têm filhos no momento do diagnóstico ou não estão com a prole completa. Sabe-se que alguns tratamentos com radio e quimioterapia são gonadotóxicos, ou seja, podem prejudicar a quantidade e qualidade dos óvulos e até mesmo levar à menopausa precoce. Este cenário pode causar um desgaste emocional bastante grande no futuro, quando a mulher estiver curada mas se der conta de que já não pode mais engravidar.

Neste sentido, os médicos precisam orientar as pacientes que irão se submeter a tratamentos de radio e quimioterapia sobre opções de preservação da fertilidade, como o congelamento de óvulos, antes de iniciarem o tratamento. O trabalho multidisciplinar envolvendo oncologistas, hematologistas e especialistas em Reprodução Assistida é muito importante neste contexto. O congelamento de óvulos também dá às pacientes com câncer um conforto psicológico de saber que no futuro terão chance de serem mães com seu próprio material genético.

Devido aos avanços em Reprodução Assistida na última década, o congelamento de óvulos tem se mostrado um tratamento eficaz para a preservação da fertilidade tanto em adolescentes como em mulheres adultas. O ideal é que a paciente seja encaminhada para o especialista o mais breve possível, para que o procedimento seja feito antes do início da radio/quimioterapia.

O tratamento consiste em hiperestimular os folículos (estruturas que abrigam os óvulos) dessas pacientes com medicação hormonal, fazendo o acompanhamento do crescimento dos mesmos por ultrassonografias seriadas, para depois colher os óvulos. Eles podem ficar congelados em laboratório especializado por tempo indeterminado. O tratamento dura em torno de 15 dias e pode ser iniciado imediatamente, assim que a paciente chega a clínica de Reprodução Assistida. Geralmente esse tempo não retarda o início do tratamento do câncer e não traz nenhuma piora ao quadro.

Em casos onde não há tempo disponível e a quimioterapia precisa ser iniciada imediatamente, ou casos de pacientes meninas ainda crianças, também existe a opção de congelamento de uma parte ou de um dos ovários, o que é feito através de cirurgia por video-laparoscopia. Esse material também pode ficar armazenado por tempo indeterminado.
*Melissa Cavagnoli é ginecologista e especialista em reprodução assistida da Clínica Hope