André Esteves  - Divulgação
André Esteves Divulgação
Por André Esteves*
O Fórum Mundial Econômico, em 2016, já havia feito uma previsão de que cerca de 40% das habilidades mais demandadas pela maioria das ocupações profissionais deveriam mudar— um reflexo da chamada “quarta revolução industrial” que intensificou o desenvolvimento da robótica, da inteligência artificial e da automação, de uma maneira geral.

Outro fator que contribuiria muito para essa mudança seria o comportamento do consumidor, cada vez mais experimental e empoderado de ferramentas de consultas sobre produtos, serviços e, principalmente, tendências.

Se o futuro do mercado de trabalho já prometia muitas mudanças, a pandemia da Covid-19 intensificou este processo e antecipou a nova realidade. Diante de tal perspectiva, não há dúvida de que é necessário se reinventar. Seja o colaborador, o líder e/ou a própria organização. Como bem dizia Charles Darwin: “não é o mais forte que sobrevive, nem o mais inteligente, mas o que melhor se adapta às mudanças”.

Especialistas tratam o momento como “Mundo VUCA”, acrônimo em inglês das palavras que significam volatilidade, incerteza, complexidade e ambiguidade. Em português VICA, perfeito retrato do contexto atual. A volatilidade diz respeito à velocidade das mudanças, que é constante, não possui padrão nem prazo; a incerteza refere-se à falta de previsibilidade, presença de dúvidas e indecisões; a complexidade está relacionada a diversas possibilidades de respostas para uma mesma situação específica; e a ambiguidade é relativa aos caminhos diferentes que uma só pergunta pode ocasionar. Tempos realmente complexos. Muitas dúvidas e apenas uma certeza: tudo vai mudar.

As novas competências deste período chamado “futuro do presente” já são conhecidas por nós. Acontece que elas também tiveram que adaptar-se a esta nova realidade. Ou seja, ganharam potência e intensidade para melhor atender às novas demandas. Vejamos um exemplo: a resiliência. Todos sabemos que se refere à capacidade de lidar com situações adversas e imprevistas. Sim, é isso mesmo. Mas agora esta competência está turbinada. Para o novo contexto falamos de resiliência evolutiva, ou seja, precisamos aprender com os desafios e ficar melhor que antes. Outro exemplo clássico: empatia-- a capacidade de se colocar no lugar do outro. Agora é a empatia multifocal, que quer dizer colocar-se no lugar dos outros, de forma diversa e inclusiva. O desafio ficou bastante ampliado.

Vivemos o tempo de uma competência fundamental: a recapacitação. Conhecida mundialmente como “reskilling” significa a construção de novas habilidades. É quase uma reinvenção de si mesmo, com desenvolvimento em tempo real abrindo mão das velhas certezas e vivendo como um eterno aprendiz. Algo revolucionário.

Este novo cenário requer novas habilidades e competências, principalmente das lideranças, para garantir que as decisões sejam tomadas de forma mais adequada. Visão, pensamento crítico, clareza e agilidade são algumas características fundamentais. O futuro é incerto e você precisa se antecipar. No processo de mudança há duas condições: ou você é a vítima ou agente dela. Prefira ser o agente.
*André Esteves é diretor-executivo do Instituto Cyclus