Júlio Furtado, colunista do DIA - Divulgação
Júlio Furtado, colunista do DIADivulgação
Por Júlio Furtado*
Saiu o resultado do IDEB 2019 que continua mostrando que a Educação brasileira caminha a passos muito lentos. O Índice de Desenvolvimento da Educação Básica foi criado em 2007 com o objetivo de medir a qualidade de ensino das escolas do país e servir de referência para a criação e revisão de políticas educacionais. A evolução de seus resultados nos permite fazer algumas inferências importantes a respeito do nível de aprendizagem em nossas escolas.

A primeira inferência é que quanto maior a faixa etária, menos eficazes são as escolas. A meta de aprendizagem para o primeiro segmento do Ensino Fundamental (1º ao 5º ano) vem sendo superada a cada edição do IDEB, realizada de dois em dois anos, nos anos ímpares. Embora a distância entre a meta nacional e a nota média dos alunos venha diminuindo a cada edição, a escola tem se mostrado eficaz em fazer a turma dos 6 aos 10 anos aprender o essencial ensinado nas séries iniciais do Ensino Fundamental. Não podemos deixar de destacar que esse segmento tem diversos fatores a seu favor: os professores constroem vínculos mais fortes com seus alunos e avaliam melhor seu desenvolvimento, além de serem mais disponíveis para a Formação Continuada. Os pais acompanham a vida escolar dos filhos mais de perto, o que em muito colabora para o bom rendimento.

Nos anos finais desse segmento (6º ao 9º ano), o resultado nos mostra que desde 2013, a turma dos 11 aos 14 anos não vem aprendendo nem o que se considera essencial. Igualmente ponderemos que esse segmento enfrenta as características inquietantes da pré-adolescência, um menor vínculo pessoal na relação professor-aluno, menor disponibilidade dos professores para a formação continuada e menor acompanhamento da vida escolar dos alunos pelos pais.

O Ensino Médio apresenta resultados ainda piores que, com certeza, já eram esperados, uma vez que nada de concreto foi feito para mudar sua condição de redentor da Educação Básica. O Ensino Médio continua com um currículo inchado e enciclopédico, desconectado dos reais interesses dos adolescentes, o que o faz um campeão de evasão escolar. Soma-se a isso, a falta de professores qualificados para o ensino de disciplinas como Física, Química, Geografia e Matemática.

Outra inferência possível é a de que não existe diferença significativa entre a qualidade média do ensino das escolas públicas e das particulares que, por sua vez, não atingiram a meta de aprendizagem para 2019 em nenhum dos segmentos. Essa inferência enfraquece bastante a tão difundida ideia de superioridade do ensino das escolas particulares e acende o sinal amarelo para todas as escolas no sentido de repensarem como estão conduzindo o processo ensino-aprendizagem.

A divulgação do resultado do IDEB em plena pandemia nos faz refletir sobre os resultados de sua próxima edição, que com certeza expressará os impactos que esse período terá nos níveis de aprendizagem de nossas crianças e jovens numa escola que já vinha cambaleante mesmo antes de ser atingida pelo coronavírus.
*Júlio Furtado é professor e escritor