Paulo Betti - Divulgação
Paulo BettiDivulgação
Por Paulo Betti*
Fui para o festival de cinema de Berlim, em 1998, com o filme “Guerra de Canudos”, de Sergio Rezende, que passou na mostra paralela. Foi no ano do filme “Central do Brasil”, de Walter Moreira Salles.

Diariamente, eu passava na frente do cinema. Via a aglomeração dos fãs, e ficava ali parado para ver se encontrava atores conhecidos. Não vi ninguém.

Um dia, encontrei Fernando Torres e Fernanda Montenegro. Conversamos. Ganhei ingresso para ver o filme na sessão de gala. Vesti a minha melhor roupa e fiquei temeroso quando atravessei a passarela sem causar curiosidade em qualquer repórter ou fotógrafo. Temi que algum policial colocasse em cheque minha presença. Imagina o mico, sem entender nada de alemão.

Entrei. O diretor Walter Salles falou, e percebi um ligeiro acento alemão no seu inglês. O filme foi exibido. Os aplausos no final começaram.

Nós, os brasileiros, éramos uns cem no meio daqueles mais de 1500 adversários. A maioria torcia por seus filmes, ou de seus países. Eu batia palmas, e olhava para os braços cruzados da fileira ao lado. Aí, entrou no palco, o menino herói do filme “Central do Brasil”. Minúsculo, contrastando com o pé direito gigantesco.

Os aplausos cresceram. Afinal era um festival de cinema, e os competidores não eram desprovidos de sensibilidade.

Entrou Fernanda Montenegro. Ela que aparecia como uma mulher simples na tela, parecia imponente. Ela estava em seu elemento: o palco. ( E soube, ela confessou a amigos, que a única coisa que não podia acontecer e que temia, era cair, tropeçar).

Os aplausos cresceram.

Os brasileiros, começamos a gritar: “bravos”. E gritávamos olhando para aqueles que ainda permaneciam, frios rivais. Queríamos que eles soubessem que estavam vendo nossa unanimidade.

Fernanda chegou na boca de cena e fez uma reverencia. Ela devia ter assistido aquela aula famosa que Vitorio Gassman havia ministrado no Teatro Municipal do Rio de Janeiro no final dos anos 50. O grande ator italiano ensinou: “agora vocês vão me aplaudir! E caminhou triunfante do fundo para o proscênio”. Atores amadores se fazem de desenxabidos quando recebem aplausos. Os grandes atores sabem a dose certa do agradecimento, controlam o orgulho e a vaidade, mas deixam claro o merecimento pelo que acabaram de fazer.

Fernanda recuou e pegou nas mãos do menino. E avançou de mãos dadas com ele. Continuei aplaudindo e gritando como se estivesse numa batalha campal onde a honra de meu povo, no que ele tem de melhor, precisasse ser reafirmada.

Olhei para Fernando Torres, marido da grande atriz, um grande ator, e o percebi um pouco atrapalhado com uma câmera tentando fotografar. Logo, ele se livrou da câmera e se dedicou ao frenesi. Fiz uma foto dele aplaudindo. Aí entrou o diretor do filme, a vibração se manteve. Entrou o produtor estrangeiro, uma produção franco brasileira, Arthur Cohn, e, fez subir ainda mais a temperatura.

Central do Brasil nos diz hoje: respeito e apoio ao cinema brasileiro! Precisamos!

*Paulo Betti é ator