Diariamente, eu passava na frente do cinema. Via a aglomeração dos fãs, e ficava ali parado para ver se encontrava atores conhecidos. Não vi ninguém.
Um dia, encontrei Fernando Torres e Fernanda Montenegro. Conversamos. Ganhei ingresso para ver o filme na sessão de gala. Vesti a minha melhor roupa e fiquei temeroso quando atravessei a passarela sem causar curiosidade em qualquer repórter ou fotógrafo. Temi que algum policial colocasse em cheque minha presença. Imagina o mico, sem entender nada de alemão.
Entrei. O diretor Walter Salles falou, e percebi um ligeiro acento alemão no seu inglês. O filme foi exibido. Os aplausos no final começaram.
Nós, os brasileiros, éramos uns cem no meio daqueles mais de 1500 adversários. A maioria torcia por seus filmes, ou de seus países. Eu batia palmas, e olhava para os braços cruzados da fileira ao lado. Aí, entrou no palco, o menino herói do filme “Central do Brasil”. Minúsculo, contrastando com o pé direito gigantesco.
Os aplausos cresceram. Afinal era um festival de cinema, e os competidores não eram desprovidos de sensibilidade.
Entrou Fernanda Montenegro. Ela que aparecia como uma mulher simples na tela, parecia imponente. Ela estava em seu elemento: o palco. ( E soube, ela confessou a amigos, que a única coisa que não podia acontecer e que temia, era cair, tropeçar).
Os aplausos cresceram.
Os brasileiros, começamos a gritar: “bravos”. E gritávamos olhando para aqueles que ainda permaneciam, frios rivais. Queríamos que eles soubessem que estavam vendo nossa unanimidade.
Fernanda chegou na boca de cena e fez uma reverencia. Ela devia ter assistido aquela aula famosa que Vitorio Gassman havia ministrado no Teatro Municipal do Rio de Janeiro no final dos anos 50. O grande ator italiano ensinou: “agora vocês vão me aplaudir! E caminhou triunfante do fundo para o proscênio”. Atores amadores se fazem de desenxabidos quando recebem aplausos. Os grandes atores sabem a dose certa do agradecimento, controlam o orgulho e a vaidade, mas deixam claro o merecimento pelo que acabaram de fazer.
Fernanda recuou e pegou nas mãos do menino. E avançou de mãos dadas com ele. Continuei aplaudindo e gritando como se estivesse numa batalha campal onde a honra de meu povo, no que ele tem de melhor, precisasse ser reafirmada.
Olhei para Fernando Torres, marido da grande atriz, um grande ator, e o percebi um pouco atrapalhado com uma câmera tentando fotografar. Logo, ele se livrou da câmera e se dedicou ao frenesi. Fiz uma foto dele aplaudindo. Aí entrou o diretor do filme, a vibração se manteve. Entrou o produtor estrangeiro, uma produção franco brasileira, Arthur Cohn, e, fez subir ainda mais a temperatura.
Central do Brasil nos diz hoje: respeito e apoio ao cinema brasileiro! Precisamos!
*Paulo Betti é ator