Pâmella Passos - Divulgação
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Por Pâmella Passos*
Que tempos são esses em que ultrapassamos mais de 100 mil mortos e para alguns responsáveis a discussão é se seu filho ficará atrasado? Que mundo é este em que naturalizamos que crianças, adolescentes, jovens e adultos em frente a tela estão dispersos, cansados, ansiosos, sem condições de aprender nada.

Ensino pressupõe condições de aprendizagem. Estudantes brasileiros têm essas condições neste momento? Me parece que não. Do que estamos falando, então? De famílias que precisam trabalhar e não tem onde deixar seus filhos? De responsáveis que entraram de tal modo na lógica de “preparação” dos seus filhos que não conseguem perceber que educação é processo e não linha de chegada. De problemas sociais que não
será a escola, sozinha, que resolverá?

Os profissionais da educação que estão no cotidiano escolar, seja na educação pública ou privada, sabem antes mesmo da pandemia, que os transtornos de saúde mental tem sido uma constante realidade para nossas alunas e alunos. Assim, precisamos ter muito cuidado e responsabilidade com as propostas que estão sendo chamadas de “ensino remoto”.

Não é apenas sobre acesso aos encontros e materiais, é também sobre qualidade desses encontros. O que eles produzem? Afeto ou ansiedade? Está fazendo sentido para os estudantes e suas famílias trabalhar conteúdos através de uma tela enquanto perdem pessoas, empregos, casas....? Estamos preparados para o que especialistas chamam de 4ª onda da Pandemia: as sequelas emocionais?

Ouvi de uma docente da Educação Pública Federal, professora do ensino fundamental I e doutora em Educação, pertencente aos mundos do chão da escola e acadêmico: interação remota é o nome, ensino é muito mais. Que essa frase fique para nossa reflexão.

Não podemos chamar o que está acontecendo de Ensino, sob a pena de destruir a educação das futuras gerações.

*Pâmella Passos é professora da rede pública desde 2006 e pesquisadora do Grupo de Pesquisas em Tecnologia, Educação e Cultura