Por Isabela Gaspar*, Maria Birman*, Marianna Vidal* e Sophia Rosa*
Comer é um ato político! O ato de comer, por muito tempo encarado como uma questão individual, habitual, cotidiana, vem se configurando também como um símbolo da luta por políticas públicas. Não precisamos ir longe para tal constatação. Dona Maria, 43 anos, moradora de Bangu, mãe solo de dois filhos matriculados em escola pública e camelô do centro da cidade, entendeu durante a pandemia de covid-19 a dimensão de políticas como o Programa Nacional de Alimentação Escolar (PNAE) e dos restaurantes populares na vida de sua família: sem a merenda da escola, a possibilidade de tomar café da manhã por R$0,50 no Restaurante Popular do bairro onde mora tem sido fundamental.

A realidade de Dona Maria é a de muitas outras famílias cariocas. Por isso, é urgente pensar sobre as políticas de segurança alimentar e nutricional no contexto das eleições municipais. Quais são os principais nós críticos desse tema na cidade do Rio de Janeiro?

Uma pesquisa realizada pelo professor Drº Paulo César Castro Júnior, da UFRJ, revelou profundas desigualdades territoriais no acesso à alimentação adequada e saudável no município. Em bairros com maior concentração de renda, como Tijuca, Copacabana e Barra da Tijuca, há grande quantidade e diversidade de
estabelecimentos que comercializam alimentos, entre feiras, mercados, restaurantes e fast-foods; já nos bairros com menor renda, como Bangu, Guaratiba e Complexo do Alemão, a própria oferta de alimentos é limitada. Os moradores dessas regiões possuem menos possibilidades para a realização de uma alimentação adequada, como recomenda o documento de referência nesse assunto no país, o Guia Alimentar para a
População Brasileira.

Com a pandemia do novo coronavírus e o fechamento das escolas, a importância da alimentação escolar na dieta cotidiana dos estudantes ficou ainda mais evidente. Apesar disso, a prefeitura do Rio de Janeiro não utilizou nem metade (46%) dos recursos do PNAE para garantir alimentação aos 641 mil estudantes da rede municipal de ensino, segundo dados apresentados em audiência pública organizada pela Câmara Municipal de Vereadores no dia 14 de agosto. O não cumprimento de contratos estabelecidos com cooperativas de agricultura familiar que abasteciam as escolas teve como consequência grandes prejuízos para os agricultores, além do desperdício de alimentos que não puderam ser escoados em outros mercados.

Neste cenário, a Aliança Pela Alimentação Adequada e Saudável convida os cariocas a pensarem no processo eleitoral como uma oportunidade para fazer avançar a agenda da alimentação e nutrição no nosso município. Alimentação é um direito humano inalienável, por isso incentivamos o debate público sobre as políticas e programas capazes de efetivá-lo. As propostas dos candidatos a prefeitura e vereança para essa
temática são importantes para informar o voto dos eleitores, e independentemente do resultado das urnas, seguiremos nos mobilizando pela garantia da segurança alimentar e nutricional.
*Isabela Gaspar, Maria Birman, Marianna Vidal e Sophia Rosa são pesquisadores do Núcleo RJ da Aliança