Renata Bento - Divulgação/ Ana Wander Bastos
Renata BentoDivulgação/ Ana Wander Bastos
Por Renata Bento*
Durante um bom tempo em nossas vidas, investimos a maior parte de nós nas relações afetivas íntimas, exceto quando o medo de se relacionar e os riscos paralisam a capacidade de amar. A pessoa fica em cima do muro: não sente tristeza e nem felicidade.

Investir em um relacionamento e se permitir viver com uma pessoa durante um tempo, requer disponibilidade afetiva, expectativas, trocas emocionais e intimidade. Afinal o que é intimidade? É se permitir se aproximar, se deixar conhecer e vice-versa; é um lugar de segurança emocional onde se pode compartilhar as fragilidades, valores, alegrias e projetos.

Quando ao longo de um relacionamento e da intimidade prevalecem os sentimentos bons e positivos, a relação tende a prosseguir, quando não se percebe esses pontos, a relação é mais estática.

Conduzir uma separação com resoluções construtivas é tarefa cuidadosa porque se trata de um investimento afetivo. Esse processo de retirada desse investimento é delicado e muito particular; deve ser levado em conta muitos aspectos, como por exemplo, a dependência negativa e as (re)-atualizações de antigas separações.

Esse processo é o que chamamos de luto. Quando esse luto não é bem elaborado, é como se a pessoa ficasse com partes do outro de forma desarrumada dentro dela, numa espécie de melancolia; e o tempo todo como um refluxo isso retorna a superfície. Muitos casais se separam fisicamente, mas não afetivamente, permanecem com “componentes celulares” inconscientes agindo de forma obscura.

Relacionamento é risco e é aposta; é intimidade progressiva entre duas pessoas que deveriam ser inteiras e não metades em busca de sua outra parte. Se não tem filhos, fica um pouco menos complicado, mas quando há filhos envolvidos, esse elo se permanecerá, entretanto, haverá necessidade da retirada da intimidade outrora existente. Nada pior que ficar preso emocionalmente em uma relação que terminou.

É preciso juntar os restos com dignidade e amor próprio e trabalhar na construção de uma relação saudável e de crescimento para ambos. A dificuldade em recuar, encontrada em algumas pessoas que insistem na intimidade e no controle com o (a) ex companheiro (a) de uma relação que já não existe, revela aspectos mal elaborados na retirada da libido, bem como a dificuldade em fazer luto, problemas com a autoestima, insegurança, inveja, amor próprio, entre outros.

Afinal a relação precisa ser de dois, até dizem por aí que “quando um não quer, dois não brigam”.
*Renata Bento é psicanalista e psicóloga