Thatiana Peixoto e Ana Barroso são pediatras e integrantes da Sociedade Brasileira de Pediatria Opinião O DiaDivulgação

Por Thatiana Peixoto e Ana Barroso*
Maus tratos em crianças é um assunto difícil, mas precisa ser abordado. Um dos principais alertas para identificar a violência é mudança drástica de comportamento. É quando uma criança agitada passa a ficar mais quieta, acuada. Ou criança alegre que se torna triste e até agressiva. As brincadeiras com os bonecos são de uma forma mais agressiva, como se ela tentasse descontar a raiva naquele brinquedo.
O adulto também deve ficar atento a sinais de agressão aparentes no corpo da criança, como vergões, roxos ou machucados em lugares não tão comuns. Queimaduras, principalmente de cigarro, também devem ser foco de atenção.
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Entretanto, é importante ressaltar que nem sempre as agressões deixam marcas no corpo: agressões na cabeça ou de toalha molhada, por exemplo. A criança vai relatar dor no local, mas a agressão não será perceptível aos olhos do adulto que, por muitas vezes, descarta a hipótese de agressão física. No abuso sexual, geralmente a criança relata dor em região genital e anal e corrimento. Porém, é importante ressaltar que, na boca, podem aparecer lesões, como frênico lingual rasgado ou manchas roxas ou avermelhadas no céu da boca.
A criança agredida tem uma mudança comportamental drástica, geralmente volta a regredir como fazer xixi na cama, chupar chupeta. Pode apresentar alteração no sono, não dormir sozinha, ou acordar na madrugada com muita frequência, geralmente com pesadelo. Pode, ainda, passar a dormir demais. Há também uma mudança no padrão alimentar: algumas podem passar a comer por ansiedade, enquanto outras podem se tornar anoréxicas ou desenvolver bulimia.
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Muito se falou do vômito no caso do menino Henry. Isso é comum. A criança geralmente vai apresentar vômitos quando se aproximar do agressor. Como aquele medo é intenso e real, fica nervosa, muito chorosa e acaba vomitando. Outro possível sinal é apresentar depressão, perda da autoestima e deixar de confiar nela mesma e, principalmente, nas pessoas ao redor dela. Isso traz transtornos a longo prazo, alteração hormonal e de afeto.

Na grande maioria das vezes, as crianças precisam contar com a ajuda de um adulto de fora do ambiente familiar para contar suas angústias e fazer denúncias. Essa pessoa também pode monitorar a criança e perceber alguns sinais de violência sem mesmo que a vítima precise contar. Seja dentro ou fora do círculo familiar, é preciso prestar atenção aos sinais dados pelas crianças.
Um local importante é no ambiente escolar, onde a criança se sente acolhida pela professora, coordenadores, e pode expressar seus sentimentos e medos. Familiares e vizinhos devem estar sempre atentos a um comportamento estranho por parte da criança. Mesmo com a família confinada neste momento de pandemia, um vizinho pode escutar agressões, uma tia ou avó, mesmo em contato distante, pode perceber alterações de comportamento.
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É um chamado de responsabilidade a todos nós, pois este tipo de violência é mais comum do que podemos imaginar, e pode se intensificar no isolamento da pandemia. A nossa atenção a esse tipo de situação pode salvar vida de crianças inocentes e indefesas, que podem estar sofrendo abuso ou negligência.
Quem perceber alguma atitude suspeita de abuso infantil pode fazer uma denúncia pelo Disque 100 ou acionar diretamente a polícia pelo 190 ou fazer contato com o conselho tutelar da região como denúncia anônima. A lista de contatos está disponível no site: http://www.cedca.rj.gov.br/cons_tutelares.asp.
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*São pediatras e integrantes da Sociedade Brasileira de Pediatria (SBP)