Senador Randolfe Rodrigues (Rede-AP) Jonas Pereira / Agência Senado

Por Randolfe Rodrigues*
A expectativa com que o povo brasileiro acompanha a CPI da Pandemia é indício inequívoco da sua importância no imaginário popular e ilustra a ansiedade com que a crise sanitária é encarada pela população. Imprime ainda mais responsabilidade na condução dos trabalhos e investigações com o objetivo de fornecer respostas para os diferentes questionamentos acerca dos motivos que proporcionaram a tragédia humanitária atualmente vivida no Brasil.

Um mês e meio após a sua instalação, a CPI da Pandemia já reúne evidências que indicam uma estratégia deliberada de exposição da população brasileira ao novo coronavírus na busca pela “imunidade de rebanho” e o auxílio do inócuo “tratamento precoce”, ao mesmo tempo em que sabotava medidas de contenção do espalhamento do vírus como o isolamento social, uso de máscaras e álcool em gel, bem como a desinformação sobre as vacinas e sua natureza.

Outro aspecto identificado nas investigações da CPI da Pandemia seria a existência de uma estrutura paralela de acompanhamento e formulação de políticas de enfrentamento ao novo coronavírus funcionando à revelia do aparato legal estatal e ignorando o conhecimento científico acumulado pela Ciência sobre a covid-19, patrocinando abordagens clínicas e rotinas terapêuticas comprovadamente ineficazes para tratamento de pessoas contaminadas.

O resultado dessa estratégia pode ser medido pelas 500 nil mil vidas perdidas desde o início da pandemia e o total descontrole com o qual o novo coronavírus circula pelo Brasil, surgimento de novas cepas e esgotamento total da capacidade de atendimento hospitalar. A pressão sobre os sistemas de Saúde, público e privado, aliada ao esgotamento físico e mental das equipes médicas destacadas para atendimento dos enfermos. A maior tragédia da nossa história.

Agora, a CPI da Pandemia entra em uma nova fase de investigações, com o exame minucioso da documentação enviada à comissão. Pelo menos 1TB de dados já foram protocolados. Muitos desses documentos são de caráter sigiloso, mas uma boa parte é pública e está disponível para consulta no site do Senado Federal, sem falar na reclassificação de alguns deles, que logo também poderão ser consultados pelos interessados. Publicidade é a regra. Sigilo, a exceção.

O exame preliminar da documentação sugere a prática de diferentes crimes, incluindo advocacia administrativa exercida pelo governo federal em favor de aliados. Nesse sentido, a CPI da Pandemia solicitou a quebra de sigilos telefônico e telemáticos de autoridades governamentais, além de executivos de algumas empresas. A tragédia que nos assola não é fruto do acaso, mas resultado direto da estratégia adotada para o combate ao novo coronavírus.

Ainda há muito trabalho a ser feito e as próximas semanas serão decisivas para a CPI da Pandemia, não apenas pelos depoimentos esperados, mas especialmente pelas informações advindas da documentação reunida pela comissão. É hora de aprofundar as investigações.
*É senador da Rede-AP e vice-presidente da CPI da Pandemia no Senado